Neste sábado trago mais uma edição da coluna “A Médica e a Jornalista”, assinada pela Anna Barros. O tema de hoje são os recentes shows de Paul McCartney no Rio de Janeiro, ao qual a colunista teve oportunidade de assistir.
Paul in Rio
Fui ao show da minha vida. De novo. 
Na segunda-feira, dia 23 de maio, estive no Engenhão para ver Sir Paul McCartney, que entrou pontualmente às 21h30. Eu estava extremamente animada e fui com a minha irmã caçula Tais. Suas lágrimas no início da apresentação dariam a tônica do que seria essa noite especial. Paul, de terninho preto e gravata preta, parecia recém-saído da cápsula do tempo, da era Beatles. E extremamente simpático, se dizendo carioca. 
Estava ansiosa para ouvir minha música favorita: ‘The long and widing road’, que logo me remeteu ao primeiro show de minha vida: Paul in Rio em 1990 no Maracanã, recorde assinalado no Guiness Book com 184 mil pessoas. Sim, eu estava lá. I was there! 
Este, do Engenhão, demonstrava a disposição de Paul (aos 68 anos) que emplacou duas horas e meia de espetáculo, mostrando sua versatilidade nos instrumentos, seu carisma, seu fôlego de gato e suas palavras em português – na verdade em carioquês quase legítimo. Paul misturou sucessos dos Beatles e dos Wings também. 
A magia tinha tomado o ar. Nunca tinha visto tantas famílias, tantas pessoas das mais diferentes gerações, dos 10 aos 80, simbolizando o amor pela música, o amor por algo universal e atemporal, aquela música que Paul estava nos presenteando. 
Confesso que gostei mais da fase beatlemaníaca com ‘And I love her’, ‘Eleanor Rigby’, ‘Hey Jude’ e ‘Yesterday’. Mas os efeitos de ‘Live and let die’ com mini explosões me fez lembrar um filme de James Bond, o agente secreto 007, canção que embalou a trilha do filme do agente da Rainha. A eletricidade de Paul e seu amor contagiaram a todos. 
E ele ainda homenageou John Lennon, seu grande amigo, e George Harrison. Este último com uma versão folk de ‘Something’, a canção feita por George. John e George não poderiam faltar àquele espetáculo de encantamento. Ainda teve ‘Blackbird’, que fala dos direitos civis e me fez lembrar de um amigo que aniversariou por esses dias e adora essa canção. 
Paul embalou vários momentos de minha vida: momentos de romance, de indefinições profissionais, de medos e expectativas. Sempre tinha uma música dele envolvendo a situação, uma música dos Beatles, minha banda preferida de todos os tempos, que sempre realçou o amor que sempre nutri pelo Reino Unido. 
Falando em termos logísticos e estratégicos, o meu setor era o inferior leste, eu via o Paul pequenininho, mas os telões funcionaram muitíssimo bem. E a atmosfera era simplesmente sensacional. Podia ficar sentada ou em pé como melhor me conviesse e as pessoas respeitavam umas às outras colaborando para o bom andamento do espetáculo. Até conheci um cirurgião plástico da Escola do Professor Pitanguy, proveniente de Vitória, que havia levado sua mãe para retribuir a sua ida ao lendário show de 1990. Coincidência pouca é bobagem. 
Fiquei surpresa com o esquema de segurança e também com a organização da volta. Optei por vir pra casa de trem até a Central e dali pegar a integração do metrô até a Afonso Pena, próxima à minha residência. Saí duas músicas antes do fim para evitar tumultos. O trem estava com ar condicionado, tudo bem sinalizado. 
Acabei descobrindo depois, pois era a minha primeira vez andando de trem em solo tupiniquim, que nem sempre é assim e que o ar refrigerado nem sempre funciona. Mas ao olhar os trens parados e alguns em péssimo estado, dei graças a Deus por não depender desse tipo de transporte, mas me indignei com as condições precárias que grande parte da população enfrenta. O vão entre o trem e a plataforma é surreal, quase um abismo, mesmo o maquinista avisando que ele existe. E algumas estações, por causa do adiantar da hora, estavam um breu total. Eu optei ir até o Engenhão de táxi por causa do horário do rush, em que a concentração de passageiros aumentaria muito. 
Confesso que custei a dormir tamanha a adrenalina que não queria baixar de jeito nenhum e fiquei mais encantada ainda com Paul. 
Foi uma noite inesquecível. Para mim e para Tais que estreou sua maratona de shows com o pé direito indo nesse espetáculo sensacional. Algo que ela jamais irá esquecer, marcará sua vida para sempre. Como marcou a minha em 1990. 
Até a próxima!
Anna Barros”