O preço do álcool flutua, grosso modo, devido a dois fatores: à safra/entressafra e ao preço do açúcar no mercado internacional. Isto impacta o preço da gasolina pois há adição de 25% de álcool anidro à gasolina entregue pela Petrobras às distribuidoras, por força de lei.
A elevação do preço do álcool é mais ou menos fácil de se explicar. Na época da safra da cana a quantidade disponível para moagem aumenta e, quanto maior a quantidade, menor o preço – pela Lei de Oferta e Demanda. Na entressafra a quantidade de cana diminui e, evidentemente, o álcool – o preço sobe. Ainda que as safras da Região Sudeste e do Nordeste sejam em épocas ligeiramente diferentes, há um período sem safra – e não há estoques reguladores do produto.
A Petrobras, que poderia ser um agente regulador formando estoques de contingência para estabilização dos preços, somente agora que começa a entrar no mercado distribuidor do produto. Com a importância que o preço do álcool exerce sobre os demais combustíveis faz-se necessária a entrada da empresa como uma das reguladoras do mercado. Lembro aos leitores que a Cosan, dona da marca Esso e maior produtora individual de álcool do país foi vendida à Shell, ou seja, boa parte do poder de mercado neste produto está nas mãos de uma empresa estrangeira.
Teoricamente, como funciona o combustível até chegar ao tanque do carro ? A refinaria extrai a gasolina do petróleo bruto, este é vendido à distribuidora, mistura-se o álcool anidro, daí o produto pronto para consumo é vendido ao posto e então chega ao carro do leitor. Como o leitor pode ver no gráfico abaixo, apenas 28% do preço é pretencente à Petrobras e outros 11% à combinação “distribuidora + posto de combustível”. Os impostos e o álcool anidro respondem por praticamente 60% do preço final na bomba.
Este ano, especificamente, como a elevação de preço do álcool hidratado foi bem acima dos últimos anos a migração para a gasolina foi muito maior, o que levou à falta de álcool anidro no mercado para mistura e necessidade de estoques suplementares de gasolina. Informo, porém, que novas refinarias entram em operação a partir de 2012 e não haverá mais necessidade de importação de gasolina em caso de aumento súbito da demanda pelo produto.
Mais uma vez, a falta de uma entidade reguladora do mercado permite esta especulação e a variação do mix açúcar/álcool. Este é tratado como uma simples ‘comoditie’, dissociado de uma política integrada de energia. Por estes dois motivos é que o combustível ‘verde’ (deve ser do dólar, mas é assunto para outro post) tem subido tanto de preço nos últimos tempos. Com a entrada da safra proximamente o preço tanto do álcool quanto da gasolina deve refluir a patamares mais baixos.
Para terminar, dois adendos:
1) Ao contrário do que os leitores podem imaginar, os “postos Petrobras” não pertencem à empresa. A ANP (Agência Nacional de Petróleo) proíbe que distribuidoras sejam donas dos postos, à exceção dos denominados “postos escola”, em número determinado, para formação de mão de obra. Os contratos das distribuidoras com os postos são de uso da marca e identificação visual e de fornecimento exclusivo de produto.
2) Como se pode ver na tabela abaixo a remuneração da Petrobras em cada litro de gasolina é semelhante a de outros países. O que faz o produto ser mais ou menos barato é o custo dos tributos e, no caso brasileiro, a flutuação do preço do álcool – que seria bem menor se a estatal brasileira tivesse uma posição de reguladora do mercado como tem na gasolina. Basta lembrar que o preço do produto às distribuidoras é o mesmo desde junho de 2009, em que pesem os aumentos do barril do petróleo neste período.