Bom, fim de festa, no momento em que escrevo (final da tarde de segunda) o Presidente americano Barack Obama já se encontra no Chile, outro país onde o governo americano até hoje ainda tem histórias mal contadas a acertar. Hora de fazer uma tentativa de balanço da visita.
Não sou especialista no tema, mas este tipo de evento é mais importante pelo que ocorre antes e depois dele que pelos compromissos propriamente ditos da visita oficial. Normalmente o entendimento entre as diplomacias é que constrói os acordos a serem assinados.
O roteiro não diferiu muito do que eu havia escrito aqui na terça feira passada. Barack Obama não falou na Cinelândia, optando por um discurso fechado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e o agravamento da situação na Líbia – uma vez mais, a busca por petróleo, em tempo – fez com que a agenda de domingo fosse alterada.
No mais, os discursos dos dois presidentes no sábado em Brasília foram pouco além do protocolar. Digno de destaque, talvez, o que chamaria de “chega pra lá” (a expressão é coloquial, sei, mas não me surge outra mais adequada neste momento) da presidenta brasileira em seu congênere na questão do petróleo. 
Dilma Roussef deixou claro que o Brasil é líder na tecnologia de exploração em águas ultra-profundas e que possui capital para desenvolver as reservas, consideradas as últimas fronteiras petrolíferas mundiais. Esta postura – que considero adequada em defesa do interesse nacional – frustra os planos da diplomacia americana de interceder no sentido de reservar às empresas ianques uma fatia na exploração desta imensa reserva. Já falei sobre o assunto aqui em outras ocasiões.
Barack Obama também fez lobby explícito pelos caças americanos na licitação organizada pelo governo brasileiro, que se arrasta há alguns anos e que, sempre que uma decisão aparenta ter sido tomada, aparece um jogo de pressões das mais diversas a fim de retardar o processo. Para o Brasil é importante a transferência de tecnologia, algo que a proposta norte-americana não contempla.
O discurso no Theatro Municipal – para o qual haviam me conseguido convites, infelizmente só soube quando já não dava mais tempo – não fugiu muito da declaração de intenções generalista que havia previsto aqui semana passada.
Ressaltaria o bom trabalho prévio feito por quem auxiliou o Presidente americano na redação do discurso, procurando obter referências do país que tivessem a ver com a história do Presidente. Contudo, não houve maiores novidades além de se constatar o grande carisma do mandatário.
A avaliação inicial é de que o presidente norte-americano talvez esperasse um compromisso maior da política externa brasileira com o posicionamento ianque. Isto ficou claro nas conversações sobre a questão da Líbia, na qual o Brasil se absteve na votação do Conselho de Segurança da ONU que autorizou o ataque ao país do norte da África.
Por outro lado, a impressão geral é de que a Presidenta Dilma Roussef saiu-se bem em seu primeiro grande teste. Todavia, ficou claro que que os Estados Unidos animam-se mais com a idéia de ver a Índia como membro permanente do já citado Conselho, em que pese a declaração de Obama ter sido mais favorável ao Brasil que a prevista. Aguardemos os desdobramentos neste caso.
Finalizando, não posso deixar de mencionar o show de antipatia dado pela comitiva visitante. Espaço aéreo fechado, ruas fechadas, estabelecimentos comerciais impedidos de funcionar, revistas indiscriminadas – a ponto de Ministros brasileiros terem sido obrigados a passar por tal procedimento, o que gerou reclamação formal por parte da diplomacia brasileira.
A visita de Obama ao Cristo Redentor – que carrega um simbolismo importante no momento em que tropas americanas iniciam uma guerra contra um país majoritariamente islâmico – além de belas fotos como a que inicia este post também gerou um relato bastante contundente sobre a paranóia dos serviços de segurança americanos e as limitações ao trabalho da imprensa, feito pelo jornalista Rodrigo Vianna em seu “Escrevinhador”. Uma demonstração típica de arrogância totalmente desnecessária.
Aguardemos as consequências da visita oficial. Minha avaliação final é de que, ao contrário do que se esperava por parte dos norte americanos, a política externa brasileira não deverá se alinhar automaticamente aos Estados Unidos, mas sim manter em linhas gerais a atual relativa independência iniciada pelo ex-Presidente Lula e mantida até o momento pela Presidente Dilma. O que não impede eventuais concessões de ambas as partes em assuntos específicos.
(Fotos: Terra e O Globo)