Em dia diferente do habitual, a coluna “Sobretudo”, assinada pelo publicitário Affonso Romero. O tema de hoje é um resumo de alguns fatos da última semana.
O leitor há de estranhar as fotos. Explico. São minha homenagem à vilipendiada por seus dirigentes Portela e aos dois integrantes que ousaram dizer que, sim, a escola tinha condição de ser julgada neste carnaval: o Mestre de Bateria Estandarte de Ouro Nilo Sérgio e a porta bandeira Lucinha Nobre. Infelizmente, se conheço bem a “diretoria” da escola, ambos deverão estar em novas agremiações em 2012.
“Pauta nova sobre temas antigos”
Desisto de fazer planos. Muitíssimo bem faz o editor deste espaço, meu amigo Migão, que já acredita em mim desacreditando e tendo na manga um plano B. Não que eu seja um tratante ou um mentiroso. Eu faço e desfaço o planejamento e as entregas de texto para esta coluna com as melhores intenções, mas às vezes simplesmente não dá pé. 
O leitor que acompanha este blog sabe que eu prometi uma série de mini-colunas de férias direto de Buenos Aires. Até já me desculpava por antecedência pelos eventuais defeitos gerados pelo teclado do hotel etc. A intenção esbarrava no corre-corre com a família por ruas e pontos turísticos – coisa que ocupava o dia inteiro – e o corpo trucidado por um calor inesperado e necessitando de descanso – coisa que ocupava a noite. Além da já esperada má vontade do hotel para com um brasileiro tentando monopolizar o único computador à disposição dos hóspedes. Enfim, mais uma vez, eu fui otimista.
A vantagem disso tudo é que eu elenquei um bom número de temas de rápido desenvolvimento (rápido aqui é um conceito bem relativo, eu nunca escrevo nada muito rapidamente) que eu pretendo (sem promessas, por favor) enviar ao editor para que ele disponibilize aos leitores. Já sem os erros do teclado louco dos argentinos, pelo menos, e na mesma dosagem homeopática planejada originalmente.
Enquanto isso, devo contar que estou de volta ao Planalto Paulistano. Vim pelas asas da British, que eu recomendo. O trecho para Buenos Aires é barato, tem comissários trilingues, poltronas razoáveis e um excelente acervo multimídia disponibilizado em telas individuais. A comida é aquele desastre de sempre, não inventaram nada pior que refeições aéreas.
Trouxe alguns livros novos em espanhol na bagagem, de modo que teremos assunto literário nos próximos meses. Dilma parece começar bem, e já há lendas no ar sobre o estilo pessoal de trator no poder, exigências quanto à postura de ministros e assessores, proibições de uso do celular na ante-sala e sala de despachos, mão-de-ferro no controle das ações dos ajudantes e outras idiossincrasias do bem da nova chefa. 
O calor da segunda metade deste verão está insuportável, mas se você estiver lendo isso no final da tarde, estarei literalmente chovendo no molhado. Molhado, não: encharcado, pantanoso, lacruste e até tsunâmico.
Foi uma sorte ter ido e voltado de São Paulo a Petrópolis no mesmo dia, para levar o meu filho para casa, sem passar por nenhum trecho bloqueado de estrada. Mesmo assim tive que cruzar um temporal, na altura de Aparecida do Norte, que deixou muito carro encostado na beirada da Dutra. 
O vai-não-vai egípcio chegou ao fim e torço para que a esperança por democracia supere as probabilidades mais propensas para uma infindável crise política que pode levar o governo do Cairo a uma ditadura pior, e ainda por cima fundamentalista. 
Vou tentar poupar minha alma de comentar este BBB, que é um formato ruim que consegue ficar pior a cada ano. Ademais, a realidade nua e crua tem sido mais picante, como este arranca-rabo envolvendo a exploradora-de-animal e o seu rebento, também conhecido como o-filho-gay-do-animal. Lamento as férias terem se findado, ou estaria me divertindo vespertinamente no programa da Sônia Abrão. A confusão inclusive tem tirado dos fãs da jornalista-papa-defunto-paulista-adiposa as opiniões e debates dela sobre o BBB. 
Por falar em televisão, Ana Maria Braga conseguiu parar na terceira colocação do IBOPE da manhã, atrás da Record e até da sessão de desenhos do SBT. É daí para a aposentadoria, porque já tentaram de tudo e mais um pouco para dar sobrevida ao Mais Você. Mais fácil convencer o papagaio a fazer carreira solo.
Ronaldinho Gaúcho completa um mês de Gávea sem causar problemas. Nem ao Flamengo e muito menos aos adversários. Mas tudo pode mudar, e aí é que está o perigo. O Adriano, por sua vez, não passa um mês sem causar um problema grave a si mesmo e à Roma. Mas ambos têm o que merecem e foram buscar. 
Enquanto isso, o Fluminense vai cumprindo sua sina de nulidade internacional, ao debutar na Libertadores 2011 empatando em casa com o time teoricamente mais fraco do grupo e, ainda por cima, levando dois gols de cabeça de um atacante com medidas liliputianas. Como previsto.
Já falei sobre o calor? Ah, sim, já comentei. Desculpem, mas eu não consigo mais dormir, preciso urgente de um ar-condicionado, ainda que vá usá-lo dois meses ao ano.
Fui ao show do João Donato com a Paula Morelenbaum lançando no circuito SESC-SP o cd que eles produziram juntos no ano passado. Coisa fina, apesar do som de má-qualidade no estranhíssimo teatro do SESC Pompéia, que tem metade da platéia virada para cada uma das laterais do palco. Coisa de arquiteto moderninho e sem noção de praticidade. 
Revolvi do fundo da memória um show em que eu toquei bateria naquele palco, há coisa de uns 25 anos. A única vez que eu toquei bateria em público, diga-se, mas era um show de blues de um amigo meu e esta é outra história. O fato é que a disposição do público é tanto um estorvo para a platéia quanto um desconforto para o músico. Ia esquecendo de comentar (deve ser o sono causado pelo calor) que adorei o espetáculo, apesar dos pesares. Donato tem um repertório delicioso e é uma figuraça. Além de estar acompanhado do filho, Donatinho, que dá uns toques eletrônicos à bossa normalmente nonsense do pai.
E uma megaoperação da Polícia Federal no Rio de Janeiro já levou às grades dezenas de policiais envolvidos com o crime. É sempre bom lembrar que muitos desses policiais eram comemorados como heróis pela população histérica há poucas semanas, na invasão do Complexo do Alemão. Num ambiente tão mergulhado em corrupção e sujeira, é sempre muito cedo para rotular pessoas, apontar certezas, dar cartas-brancas e confiar demais. Fácil, fácil, o Rambo de ontem vira o bandidão de amanhã. 
Um dos foragidos da atual operação da PF era, até outro dia, sub-chefe da Polícia Civil do Rio. Quando alguém deste porte está envolvido, como acreditar na isenção da corporação, como separar a polícia e o bandido? Carlos Oliveira, o foragido, era homem de confiança de Alan Turnowski, até hoje chefe da Civil, que foi chamado à PF para dar depoimento e se diz traído, surpreso e inocente. Por sua vez, Alan é homem de confiança de José Mariano Beltrame, o todo-poderoso Secretário de Segurança que sempre é colocado acima de qualquer suspeita. Até onde o erro de um contamina a confiança nos outros?
O curioso é que muita gente que vê um elo inevitável entre Lula e os erros do Zé Dirceu, ou entre Dilma e o tráfico de influência de Erenice Guerra, agora acredita piamente que Beltrame e Alan possam ter, de boa-fé, errado na avaliação das ações de um policial que ocupava um cargo extremamente próximo e de confiança. Pesos diferentes para coisas muito similares.
Mas basta navegar um pouco pela internet para saber que o absurdo é a regra do mundo, e está cada vez mais difícil separar o joio do trigo, a piada do fato, o certo do errado, o comum do inusitado. Uma noiva curitibana foi sequestrada na porta da igreja, perdeu jóias, dinheiro, cartões de crédito e até o buquê, mas voltou a tempo de se casar. Mesma sorte não teve uma jovem galesa que, aos 18 anos, e mesmo sendo atleta, morreu depois de dar seu primeiro beijo, fulminada por um ataque cardíaco. Ninguém ousou perguntar ao rapaz se o beijo foi tão bom assim.
Alguém aí, por favor, desligue a chave do disjuntor geral que eu quero dormir umas semanas seguidas.