Luiz Fernando Reis, cinquentão, carnavalesco que revolucionou o carnaval carioca com enredos irreverentes como “E Por Falar em Saudade”, na Caprichosos, e com temas reflexivos como “Templo Negro em Tempo de Consciência Negra”, no Salgueiro – ambos retratados na série “Samba de Terça”. Professor de matemática, boêmio e comentarista. 

E meu amigo há mais de dez anos, inclusive me propiciando uma experiência ímpar no carnaval carioca – desfilar de grego, em uma roupa transparente, em um carro alegórico da Inocentes da Baixada em 2004… 

Luiz Fernando Reis, um dos próceres da história do carnaval carioca, é o entrevistado de hoje da coluna “Jogo Misto”. Sua entrevista foi dada em áudio, que disponibilizo em duas partes aqui. Entretanto, faço um resumo das declarações abaixo, mas que não substitui o riquíssimo depoimento gravado.
Parte I:

Parte II

1 – De que forma o matemático e professor virou carnavalesco?

LFR – Explica que anteriormente ouvia os sambas e os imaginava em alegorias e fantasias. Ao ver a feira de Vila Isabel a imaginou como enredo e o apresentou na Unidos do Cabuçú e na Unidos de Cosmos até ser aceito na Caprichosos de Pilares (1982)

2 – “E Por Falar em Saudade” é um dos pontos altos de sua carreira. Como foi o processo de criação daquele carnaval? É verdade que Castor de Andrade estava preocupado na apuração?
LFR – O enredo surgiu em uma conversa com o parceiro Flávio Tavares em uma rodada de chope. Conta que a solidariedade do público foi muito grande – a escola iniciou o desfile às onze e meia da manhã  – e que o filho de Castor de Andrade temeu perder para a Caprichosos.
Relata também os elogios que ganhou do grande Fernando Pinto e que preferiu que a escola fosse declarada “campeã do povo” ao invés de ser campeã oficial.
3 – Como surgiu a idéia da faixa “Nem melhor, nem pior, apenas roubado” para o desfile das campeãs de 1989?
LFR – Afirma que a idéia foi do falecido patrono Miro Garcia e dá a entender que achou justa a colocação da escola. Elogia o Salgueiro e diz que foi seu melhor carnaval em termos plásticos.

4 – Como você avaliaria o momento atual da Caprichosos de Pilares?
LFR – Critica o Presidente Paulo de Almeida, diz que o tempo dele “já passou” e que a escola se ressentiu muito da última colocação em 2009 (acima), apesar do não rebaixamento.
5 – Como você avaliaria o desfile das escolas de samba nos dias de hoje? O que precisaria mudar?
LFR – critica o politicamente correto, os enredos burocráticos, a falta de ousadia e o conservadorismo. Diz que o modelo atual de poder onde o presidente “tem a chave da quadra em um bolso e o dinheiro no outro; às vezes usa o dinheiro na escola”.
6 – Qual é a influência da internet sobre os desfiles atuais?
LFR – afirma que as pessoas sérias da internet devem ser mais ouvidas pelas escolas como uma forma de democracia. Cita textualmente o autor deste Ouro de Tolo, Fábio Fabato, Fábio Pavão, Eugênio Leal e Luis Carlos Magalhães como autores que devem e merecem ser lidos.
7 – O que você pensa a respeito da literatura disponível sobre carnaval?
LFR – diz que não é o mais importante e que tem “muito acadêmico que vai às quadras três vezes e acha que pode escrever sobre samba”. Também diz que não há público leitor e que as escolas de samba são consideradas pela elite uma “coisa menor”.

8 – Um desfile inesquecível. Por quê?
LFR – Caprichosos 82 e 85 e o inesquecível “Kizomba” – Vila Isabel 1988 (acima).
9 – Um samba inesquecível. Por quê?
LFR – “Chico Rei”, Salgueiro 1964.

10 – Um livro inesquecível. Por quê ?
LFR – Declara que leu “meia dúzia de livros na vida”, questiona o conceito de que aqueles que lêem são mais inteligentes e acha suas apostilas de Matemática inesquecíveis.
11- Uma canção inesquecível. Por quê ?
LFR – “Andança” e “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores”.
12- Livro ou filme ? Por quê?
LFR – filme, mas não gosta de ficção;
13 – Finalizando, com os agradecimentos do Ouro de Tolo, algumas poucas palavras sobre o blog ou seu autor/editor
LFR – elogia o trabalho que venho desenvolvendo aqui e no Galeria do Samba e pede que o Ministério Público veja o que ocorre nas escolas de samba.
(Foto: Acesso B, 2007)


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