Na última semana realizou-se aqui no Rio de Janeiro a “Rio Oil and Gas”, feira bianual voltada à industria do petróleo e voltada aos profissionais e empresas do setor. Realizada no Riocentro, ocupa cinco pavilhões do complexo de Jacarepaguá e consiste de stands, conferências e painéis de debate.
Terça feira passada tirei a tarde para visitar a feira e assistir a duas conferências que me interessavam para meu campo de atuação: a primeira proferida pelo Diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa – com o tema “Crescimento Econômico x Demanda de Combustível: o Desafio da Próxima Década”; a segunda o painel de debates sobre o marco regulatório do pré-sal e as possibilidades de desenvolvimento econômico.
Após um trânsito insano, cheguei ao Riocentro por volta de 14:15, em cima da hora da palestra do Diretor da Petrobras. Fiz rapidamente meu credenciamento – funcionários da Petrobras tinham o direito a assistir qualquer conferência – e dirigi-me ao auditório (foto abaixo).
A conferência levantou uma série de pontos que normalmente em nosso dia a dia não estamos observando, além de explicitar o plano estratégico da companhia até 2014 e, posteriormente, 2020. O Diretor explicou que a capacidade de ampliação de refinarias existentes chegou ao limite – o chamado “revamp” – e que as novas refinarias em construção irão ampliar a capacidade de refino brasileira para 3,2 milhões de barris de derivados/dia – comparando-se com os 2 milhões de barris de capacidade instalada que temos hoje.
Cabe explicar ao leitor que é muito mais vantajoso se exportar derivados, produto de maior valor agregado, que simples petróleo cru. Além disso, o país não é auto-suficiente em derivados, em especial diesel, e esta ampliação da capacidade produtiva permitirá a auto-suficiência em derivados.
Vale lembrar que segundo dado citado na palestra o consumo de derivados de petróleo cresceu 12% no primeiro semestre deste ano em relação ao primeiro semestre de 2009. Apesar disso, não houve necessidade de importação de derivados, a não ser uma pequena quantidade de gasolina devido ao preço elevado do álcool hidratado utilizado pela mistura.
(Fonte: Petrobras)
O gráfico acima mostra a capacidade instalada de refino e suas ampliações, bem como a demanda nacional por derivados. As novas refinarias, ainda segundo o Diretor, estão sendo projetadas para absorver o petróleo pesado da Bacia de Campos, redirecionando a produção do pré-sal para as refinarias atuais. Com isso, consegue-se uma maior quantidade de diesel por barril de petróleo e diminui-se a produção de óleo combustível, subproduto de menor valor agregado.
Outra característica marcante é a volta da petroleira à petroquímica, através do Comperj – do qual já tratei em outro post anterior. Com isso, a cia consegue ter maior valor agregado e amplia sua rentabilidade e sua gama de produtos.
Também foi ressaltado o fato de que a capacidade instalada de refino não corresponder à produção real diária. Isto se explica pelo fato de periodicamente as unidades de uma refinaria necessitarem efetuar “paradas” produtivas para manutenção, de forma que um índice em torno de 91% de utilização como o informado na conferência é um patamar bastante eficiente de utilização.
Como o gráfico também mostra, há a possibilidade de exportarmos cerca de 400 mil barris diários de derivados em 2020, sendo um retorno em divisas para o país maior do que se exportar apenas óleo cru. Entretanto, o aumento da produção nacional para cerca de 4 milhões de barris em 2020 permitirá que se exporte aproximadamente 960 mil barris de óleo cru. Paulo Roberto Costa frisou que estes são números do Plano Estratégico e que a taxa de crescimento anual da economia brasileira foi estimada em conservadores 3,4% ao ano.
Com um crescimento maior, os números de demanda e subsequentemente de exportação de óleo cru e derivados são afetados e podem sofrer alterações. Outro aspecto importante da conferência é o fato de se estar investindo pesadamente na qualidade dos produtos, a fim de deter melhores condições de competição no mercado.
(Fonte: Petrobras)
Também se abordou a questão da compra de equipamentos, bens e serviços da indústria nacional. A expectativa é de se ter 67% das compras da empresa no mercado interno, o que gera um potencial de crescimento imenso das empresas da cadeia produtiva do petróleo. O Diretor frisou que há áreas onde ainda não se desenvolveram fornecedores e que há boas oportunidades para empresários que queiram estar no rol de fornecedores da Petrobras.
Finalizando, o Diretor de Abastecimento elencou um sumário dos objetivos estratégicos da área de refino, baseada nos seguintes pontos:
1) Incrementar a capacidade de refino com foco no mercado brasileiro e agregando valor ao óleo doméstico;
2) Prover o mercado doméstico e o internacional com produtos “premium”, atendendo a especificações internacionais (em especial do teor de enxofre) e produtos de alto valor agregado;
3) Operar com segurança e atendendo aos requisitos de meio ambiente e saúde ocupacional;
4) Manter a disciplina de capital e assegurar sólidos retornos ao capital;
5) Focar nas necessidades do consumidor;
6) Ter sinergias e ganhos de escala no Sistema Petrobras;
O painel seguinte teve apresentações de um economista norueguês pesquisador da área e do economista Hélder Queiroz, do Instituto de Economia da UFRJ – aliás, onde eu estudei.
Em que pese ter de acompanhar a palestra sobre a comparação entre o modelo norueguês e o britânico na exploração de petróleo do Mar do Norte na tradução simultânea, o que deixou arrastada a exposição, o tema foi muito interessante.
Foi exposta a decisão governamental de se desenvolver uma indústria nacional norueguesa de petróleo e o controle governamental de todos os passos. Frisou-se que, após descontados os custos de produção, 78% da renda líquida é apropriada pelo governo sob a forma de Imposto de Renda.
O modelo da Noruega é semelhante – e inspira – o que se adotará no Brasil: há uma estatal que cuida da exploração do óleo – a Statoil – e a Petoro, que administra o ritmo de exploração e determina as alocações de poços, entre outras atribuições.
Também se frisou o apoio do governo local ao investimento em ciência e tecnologia e ao fundo soberano criado a fim de “esterilizar” a entrada maciça de moeda forta na economia local – e permitir uma reserva para tempos de crise.
Confesso que esperava mais da palestra do renomado Hélder Queiroz. Sua argumentação baseou-se no déficit do balanço de pagamentos causado pelo plano de investimentos em petróleo e em levantar dúvidas sobre o caminho traçado pelo Brasil. 
Sua argumentação é de que o petróleo continuará dominante na matriz energética, mas que deve perder participação percentual na matriz energética mundial. por outro lado, ele frisou algo que eu já sabia: que o Brasil é a fronteira de novas reservas mais promissora, e em uma área que não tem os problemas de instabilidade política do Oriente Médio.
Por outro lado, defendeu a diminuição do papel e da influência da Petrobras, especialmente na definição de preços.
Após isso dei uma passada pelos stands, que estavam mais voltados à área técnica de Exploração & Produção, além da área de refino. Confesso que não tenho mais a mesma paciência de antes para passear pelos stands, mas tive uma boa idéia da pujança do setor de petróleo e gás no Brasil.
Peculiar era a presença de “garotas de fino trato” dentro dos pavilhões, à caça de estrangeiros que lhes possibilitassem ganhos em dólares e euros. Chegava a ser acintoso o assédio aos “gringos”.
Deve-se ressaltar, também, a maciça presença chinesa não somente na feira como em grandes estandes – onde o da estatal Sinopec mais se destacava.
Sem dúvida alguma, espero ter dado ao leitor uma idéia dos desafios que a indústria de petróleo e a Petrobras tem pela frente.