Continuando a série de resenhas ainda curitibanas e em ritmo de Copa do Mundo, temos hoje o “irmão gêmeo” do livro analisado ontem.
“As Melhores Seleções Estrangeiras de Todos os Tempos”, de autoria do jornalista esportivo Mauro Beting, elenca dentro de um critério todo particular as sete maiores seleções estrangeiras em copas do mundo.
Sua escolha foi por seleções que pudessem ter sido vistas pela televisão, tenham disputado Copas do Mundo, possuíssem craques – embora pelo menos em um dos casos isso é meio duvidoso – e times que ou foram campeões ou revolucionaram seu tempo.
Feito isso, chegam-se a sete seleções, uma representante de cada grande escola de futebol mundial: Hungria de 1954, Inglaterra de 1966, Holanda e Alemanha de 1974, Itália de 1982, Argentina de 1986 e a França de 1998.
Seus craques, com pequenos perfis no livro: Puskas, Bobby Charlton, Cruyff, Beckenbauer, Paolo Rossi (é…), Maradona e Zidane.
Cada uma das seleções é contextualizada historicamente, com a sua formação anterior à Copa, estrutura tática, variações e o destino após a Copa em que disputou. Além disso, um completo “jogo a jogo” para cada partida disputada pelas equipes, com narração dos principais lances e algumas histórias. Um trabalho de pesquisa sensacional.
Outro destaque do livro são as finas ironias que permeiam o livro, em especial as divertidíssimas descrições das pancadarias em alguns dos jogos citados. Cheguei a rolar de rir com algumas passagens, como estas que transcrevo abaixo – referentes ao Brasil e Holanda de 1974:
“Apesar do jogo histórico, o que se viu foram divididas histéricas, um festival de pancadas, tesouras, carrinhos e botinadas de corar qualquer um – menos o horroroso e experiente árbgitro alemão Kurt Tsechencher” (pp. 94)

“O Brasil começava batendo mais que uruguaios e argentinos. Juntos.” (pp. 95)

“A Holanda aproveitou que o árbitro estava embananado e sem pulso e cartão para controlar os briguentos, e também baixou o nível e o pau. Para resumir a pancadaria: em 90 minutos, com a boa vontade que faltou aos litigantes, Van Hanegem merecia quatro vermelhos por jogo brusco, condenável pela Convenção de Genebra; Rivellino, duas expulsões; Suurbier, Cruyff, Rep, Valdomiro, Zé Maria e Marinho Chagas não poderiam reclamar se fossem ao chuveiro mais cedo.” (pp. 96)
No fim das contas, o único expulso foi o zagueiro brasileiro Luis Pereira. Alguns dos lances descritos acima estão no vídeo abaixo, que também mostra toda a inteligência do time holandês. O curioso é que a dez dias da estréia não havia um time definido, e o lendário Rinuus Michels somente assumiu a seleção a poucos meses do início da competição.

Outro destaque do livro é a narração do célebre gol de mão de Maradona sobre a Inglaterra em 1986, onde todos que estavam naquela tarde do estádio Azteca viram – menos o árbitro. Também conta o quão importante foi à nação platina vencer aquele jogo – a Guerra das Malvinas ainda estava entalada na garganta.

Chama a atenção a Itália de 1982, que em três anos venceu apenas quatro jogos: os dois das quartas, a semifinal e a final daquela Copa…

Sem dúvida alguma, um livro completo. Ainda descortina e desvela segredos de duas revoluções táticas, a Hungria de 1954 – que inventou o aquecimento antes das partidas e, por isso, sempre marcava no início dos jogos – e a já citada seleção holandesa.

Também faz justiça às seleções alemã de 1974 e a inglesa de 1966, times não tão incensados por fatores exógenos – a Holanda em um caso e a arbitragem em outro.

Na Travessa, custa R$ 28. Excelente opção nestes dias de Copa do Mundo.