Pergunto aos meus sessenta leitores: quem é mais importante na foto acima ?

Os caçadores de “notícias” e de celebridades dirão certamente que é a mocinha, atriz de televisão – bela atriz, reconheça-se.

Contudo, a foto mostra algo ainda mais importante, que é o projeto de preservação das tartarugas marinhas realizado na Bahia – o Projeto Tamar. Realizado com apoio da Petrobras, consiste em proteger a desova destas tartarugas nas praias e minorar o risco de extinção. Sem contar a ação predatória do homem, de cada mil tartaruguinhas que nascem nas praias apenas uma ou duas chegam à idade adulta.

Entretanto, o tal site de celebridades destaca mais a atriz em questão que o imprescindível projeto de preservação das tartarugas marinhas.

Este é um fenômeno, que já abordei em outro post, bastante representativo destes tempos em que vivemos, onde o efêmero é mais importante que o duradouro, onde a “celebridade” é mais importante que a cultura: a audiência de uma foto com a atriz citada é muito maior que o projeto desenvolvido há trinta anos.

Poderia cair na vala comum e escrever que este é um sintoma de inversão de valores; porém, considero a questão muito mais complexa que uma simples valoração do que é e do que não é importante ou capaz de atrair a atenção dos leitores, espectadores e ouvintes.

Um mundo onde a vida se torna a cada dia mais virtual, cada dia mais voyeur, tem como consequência clássica a demanda por se viver a vida das outras pessoas, especialmente se forem famosas ou carregarem o arquétipo de “bem sucedidas”. O conceito de “bem sucedido” mudou bastante nas últimas décadas, mas não podemos atribuir à televisão ou à imprensa a mudança neste conceito. Pelo menos não totalmente, seria atribuir à “caixinha mágica” um papel que ela não tem.

Certamente este interesse no que os ‘famosos’ fazem ou deixam de fazer resulta da tomada destes como “exemplos” por parte da população média.

Por outro lado, o conceito de “famosos” sofreu uma significativa alteração – a meu juízo, para pior – nos últimos anos. Hoje para ser considerado um “famoso” ou uma “celebridade” basta ter participado de um destes “reality shows” da vida ou ter feito um papel de figurante “sênior” – ou seja, com duas falas – em pseudo-séries como “Malhação” ou coisa do gênero.

Outra possibilidade é ser a “carinha bonita da vez” da novela ou ser xingada por um bando de manés em uma universidade de playboys com cérebros de amendoim atrofiado. Quando eu era garoto – e isso não faz tanto tempo assim – para ser considerado “famoso” haveria de se ter uma longa carreira ou, então, ser brilhante em sua área de atuação.

Os atores das novelas poderiam até ter caras bonitas, mas o que importava era o talento. Os jogadores eram conhecidos mais por seus talentos dentro de campo que por suas características fora dele – ou a conquista mais recente. Cientistas, escritores e bons músicos eram as grandes estrelas. Bons tempos.

Voltando ao Projeto Tamar, em minha última ida a Salvador comprei na loja do aeroporto duas tartaruguinhas de pelúcia para minha filhotas, além de uma bonita camiseta para mim. É o mínimo que eu posso fazer por tão expressivos animais. Se o leitor quiser conhecer um pouco mais, o site do projeto está aqui.