Dando seguimento às leituras ainda referentes à última viagem a trabalho, temos hoje mais uma resenha literária: “Os Anos do Condor”.
Escrita pelo jornalista americano John Dinges, que viveu no Chile e foi algumas vezes interrogado pelo sanguinário regime de Augusto Pinochet, joga luzes sobre um dos episódios mais funestos da história da América Latina: a “Operação Condor”.
Esta foi uma articulação de governos à época a fim de caçar e eliminar opositores dos regimes militares ditatoriais da década de setenta.
O livro, apoiado em documentos recém-liberados em especial pelo governo americano conta a articulação para a criação da Condor, liderada pelo governante chileno. Toda a articulação da Operação Condor e sua coordenação era feito pela Dina, o serviço secreto chileno.
De acordo com o livro a Operação Condor era composta de três estágios:
 – troca de informações entre os governos;
 – tortura e eliminação de opositores dos regimes;
 – assassinato de dissidentes nos EUA e Europa;
John Dinges esmiuça a maneira de agir dos governos desde a formatação da “Condor” e os centros de tortura “internacionais” existentes pelo menos no Chile, na Argentina e no Uruguai.
Em outra passagem há a descrição de movimentos revolucionários nos países citados e a forma como foram desmantelados pelos governos, com assassinatos e torturas. Deixa claro que Pinochet e a junta militar argentina não somente sabiam como ordenavam o extermínio.
Reveladoras, também, são a atuação dos governos americanos nesta época. Henry Kissinger, o todo poderoso Secretário de Estado americano manteve uma espécie de “apoio tácito” tendo em vista que eram governos anti-comunistas. Tudo o mais era relevado em nome da luta contra o comunismo.
Tal apoio somente encontrou reveses com o assassinato em Washington do ex-chanceler chileno Orlando Letelier e com a posterior eleição do Presidente Jimmy Carter que buscou pressionar as ditaduras em nome do respeito aos direitos humanos. A morte do chanceler, que segundo o autor poderia ter sido evitada pelos EUA levou a uma censura aos países, que abortaram o terceiro estágio da operação.
Outra faceta é comportamento dúbio dos embaixadores americanos nos países, em especial no Chile. Muitas vezes ignoravam ordens de Washington para não se indispor com os carniceiros instalados no poder nos componentes do chamado Cone Sul.
No último capítulo o autor mostra o processo que levou à prisão na Inglaterra do assassino, genocida e carniceiro Augusto Pinochet – que, no momento em que escrevo, acredito estar passando sufoco no fundo do fundo do inferno. A partir do desaparecimento de cidadãos espanhóis e utilizando-se da legislação de direito internacional de guerra o ditador passou dois anos em prisão domiciliar. Quando retornou ao Chile sua aura de “intocável” havia fenecido.
Somente no Submarino o livro pode ser encontrado para pronta entrega, ao preço de R$ 49. Escrito como uma reportagem, lança luzes em um dos episódios mais misteriosos e sinistros da história da América do Sul.
Boa leitura, que recomendo.