Ano passado, escrevi artigo no pré carnaval compilando algumas estatísticas referentes aos cinco anos anteriores ao carnaval de 2018, já estabelecendo algumas análises.

Neste ano de 2019, a ideia é pegar o desempenho das escolas do Especial nos últimos 20 anos (1999-2018) e, a partir daí, estabelecer algum tipo de correlação entre fatores que possam determinar o resultado de uma agremiação ao final do carnaval.

Evidentemente, de antemão deve-se alertar que não há uma correlação estatística direta entre fatores causais e resultados estatísticos. Por exemplo, um carro quebrado pode interferir no resultado em um ano específico (como a Grande Rio ano passado), mas não entraria em uma análise temporal.

Mais que resultados em anos específicos, a ideia é tentar empiricamente descrever tendências de resultados agrupados e eventuais fatores que possam determinar estas tendências. Adiantamos que trocas de diretoria, com mudanças em gestão, são um dos fatores de causalidade a serem abordados neste artigo.

Dividido em dois artigos (hoje, as escolas de domingo, amanhã segunda feira), vamos observar os gráficos de resultados e estabelecer inferências estatísticas. Agradeço ao leitor Phelipe Belisário, que preparou os gráficos e cedeu a este Ouro de Tolo.

1 – Império Serrano

O gráfico da escola da Serrinha nas últimas duas décadas é bastante constante, se mantendo naquele grupo entre as últimas colocações do Grupo Especial e os primeiros da hoje Série A.

Como, apesar das mudanças de diretoria neste período, não houve mudanças em métodos de gestão, os resultados parecem bastante aderentes à gestão do “Reizinho”. Parece claro que o modelo de administração exerce um fator limitador em termos de curva de resultados.

O gráfico deveria ter dois pontos fora da curva: os desfiles de 2002 e 2006, que ficaram em colocações bem aquém do que deveriam ter ficado. Não temos como mensurar isso, mas a maior ou menor força política das agremiações parece também exercer alguma influência em sua régua de resultados, principalmente na primeira década deste milênio.

2 – Unidos do Viradouro

Neste caso temos uma influência clara dos modelos de gestão no gráfico de resultados. A morte do patrono/presidente José Carlos Monassa em 2005 é um fator claro de inflexão na gestão da agremiação e em seus resultados. 

Após a morte de Monassa a escola ainda conseguiu ir bem em 2006, mas depois entrou em uma espiral descendente que culminou com o rebaixamento em 2010.

Houve troca de diretoria após o rebaixamento, mas somente após uma nova troca antes do carnaval de 2018 (trazendo a família Monassa de volta, por intermédio de sua filha Susie) é que a Viradouro parece estar se aprumando.

3 – Acadêmicos da Grande Rio

A agremiação de Duque de Caxias é uma que mantém o mesmo grupo no poder nestas duas décadas. E com isso mantém bastante regularidade em seus resultados, sempre voltando no Desfile das Campeãs.

Os dois pontos fora da curva foram desfiles com problemas de pista: 2004, quando houve proibição judicial a alegorias, e 2018 onde quebrou uma alegoria. O desfile de 2013 também deveria estar neste rol, mas acabou em um incompreensível sexto lugar.

4 – Acadêmicos do Salgueiro

A agremiação da Tijuca é um ponto fora da curva. Ainda que tendo trocas de diretorias e carnavalescos, manteve uma regularidade quase sempre nas posições do Desfile das Campeãs.

2006, ponto fora da análise, pode ser explicado pela situação da escola ter sido a primeira a desfilar no domingo. O Salgueiro quase sempre não ganha o carnaval, mas quase sempre desfila duas vezes.

5 – Beija Flor

Aqui vale um pouco o que escrevemos para a Grande Rio. A agremiação de Nilópolis ganhou cinco carnavais em seis na primeira década deste século (2003/04/05/07/08) e, se perdeu um pouco do protagonismo posteriormente, foi mais pela ascensão de outras escolas (Tijuca, principalmente, e menos a Portela mais recentemente) que por mudanças em sua gestão.

Resta ver como se comportará a escola a partir de agora, após a saída do diretor Laíla e o ganho de protagonismo por parte do herdeiro Gabriel David.

6 – Imperatriz Leopoldinense

Após um tricampeonato no início da série coincidindo com seu patrono Luiz Pacheco Drummond ocupando a presidência da Liesa, a escola de Ramos vem oscilando diretamente de acordo com o maior ou menor investimento de sua diretoria no carnaval.

Já há alguns anos vem oscilando entre o último slot do Desfile das Campeãs e os dois primeiros fora. Parece estar na medida exata de seu investimento.

7 – Unidos da Tijuca

A Tijuca mantém um padrão de administração constante desde o início da série amostral, mas tirando o vice campeonato de 2016 (que muitos críticos acharam superfaturado), os melhores resultados sempre tiveram Paulo Barros como carnavalesco.

É o caso típico onde a genialidade do artista, aliado a uma administração que propicia base, mudou a agremiação de patamar. 2017 e 18 ainda sofreram com os efeitos do acidente  no primeiro, agora é ver como será em 2019.

Fechamos o primeiro dia e, amanhã, as escolas que desfilam na segunda feira.

Imagens: Phelipe Belisário e Arquivo Ouro de Tolo

4 Replies to “20 Anos de Desempenho – Grupo Especial (Domingo)”

  1. Pedro, a questão política que você citou no Império Serrano, acredito ser decisiva para vários dos bons resultados da Grande Rio. Não vou entrar no mérito de 3º lugar que poderia ser 6º, porque aí entra a questão da subjetividade e gosto pessoal, mas, com todo o respeito a Tricolor de Caxias, seus resultados em 2006, 2007, 2012, 2013 e 2015, quando pelo menos umas cinco escolas desfilaram melhor, mas ficaram abaixo na classificação, são incompreensíveis.

    Certamente o gênio de Paulo Barros foi o ponto de partida para a mudança de patamar da Tijuca, mas hoje esse status é mantido com o excelente trabalho feito pela escola, que é tão forte quanto a Beija-Flor nos quesitos “de chão” e ainda possui a que talvez seja a melhor bateria do Carnaval ao lado da Portela. E agora tem o Laíla…

    Aliás, falei depois do último Carnaval e mantenho: o título nilopolitano pode custar MUITO caro a Beija-Flor, pois a saída do Laíla, além de enfraquecer a escola em seus setores mais fortes, fortaleceu aquela que, como você disse, tem sido sua maior rival nos últimos anos (salvo acidente em 2017)…

  2. Nossa! essa colocação da Beija Flor em 2017 é uma injustiça,aquele desfile da Iracema foi uma das coisas mais lindas que vi(no canto,na estética, em tudo), e dia desses assistindo ele novamente pelo youtube fiquei mais chocado ainda com a colocação que a escola ficou, ali merecia pelo menos um vice campeonato.

    1. Por um acaso fui assistir este desfile de novo ontem. Além do Neguinho da Beija Flor ter matado o samba (em um desempenho bem abaixo do habitual em sua carreira), a escola era um imenso blocão de índios.

      Se desfilasse à noite era nono lugar para baixo.

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