A partir de hoje e até o Carnaval 2019, vamos relembrar aqui algumas situações interessantes e inusitadas na série “Curiosidades da Folia”. A ideia, claro, é levar a você, leitor, informações curiosas e até mesmo esquecidas da nossa grande festa e, neste primeiro post, o OT recupera passagens efêmeras e, evidentemente, curiosas, de famosos intérpretes por algumas agremiações:

Neguinho da Beija Flor na Tijuca

Em 1980, o já famoso cantor da Beija-Flor teve uma curta – e vitoriosa – passagem pela Unidos da Tijuca, que tentava voltar à elite. Chamado por Laíla, que dividia suas atenções com a agremiação de Nilópolis, Neguinho cantou com categoria o excelente samba do enredo “Delmiro Gouveia”, desenvolvido com competência pelo jovem carnavalesco Renato Lage. Numa ensolarada manhã de terça-feira, a Tijuca fez um desfile arrebatador e conquistou com autoridade o título. Neguinho jamais voltaria a desfilar pela escola do Borel, mas curiosamente o irmão Nêgo consolidou sua também brilhante carreira na Tijuca.

Dominguinhos do Estácio na Inocentes

Após deixar a Unidos do Viradouro por divergências com o presidente Marco Lira durante a disputa de sambas para 2008, o consagrado cantor não atuou naquele Carnaval e, só no ano seguinte voltou a desfilar, pela Inocentes de Belford Roxo, no Acesso. Dominguinhos cantou o samba ” Do Rio Grande do Sul ao Rio de Janeiro a Inocentes canta: Brizola, a voz do povo brasileiro”, em homenagem ao ex-governador Leonel Brizola. A agremiação da Baixada ficou na nona e penúltima colocação, mas o rebaixamento não se deu depois de um acerto nos bastidores. O presidente da escola, Reginaldo Gomes, era também mandatário da Lesga, então responsável pelo Grupo de Acesso.

Nêgo na Viradouro

Com a saída de Dominguinhos do Estácio, a Viradouro buscou em Nêgo, pentacampeão do Estandarte de Ouro, seu substituto. Na única passagem pela Vermelho e Branco de Niterói, o intérprete teve boa atuação ao cantar o samba para o enredo “É de Arrepiar!”, do carnavalesco Paulo Barros, mas a escola ficou numa discreta sétima colocação.

Rico Medeiros na Imperatriz

Depois de comandar o carro de som do Salgueiro por quase uma década, o cantor foi dispensado pelo patrono Miro Garcia após o Carnaval de 1986 por defender duas escolas nas vésperas do desfile, já que não recebia salário da Vermelho e Branco, como o mesmo contou numa bela entrevista ao canal “Na Cadência da Bateria – confira aos 33 minutos. Entre a gravação do disco e o desfile de 1987, Rico acertou com a Imperatriz e defendeu na avenida o samba “Estrela Dalva”. A Rainha de Ramos fez uma agradável exibição, mas ficou em sexto lugar, contando que houve empates duplos na terceira, quarta e quinta colocações.

Quinzinho na Ilha, Aroldo Melodia na Mocidade e Ney Vianna no Império

Em 1984, um surpreendente troca-troca envolveu três dos mais conhecidos intérpretes da época. Após receber proposta da Mocidade Independente de Castor de Andrade, Aroldo Melodia saiu da União da Ilha. Já Ney Vianna teve uma divergência com o presidente Gaúcho e deixou Padre Miguel rumo ao Império Serrano, que acabou vendo Quinzinho ir para a Tricolor insulana. O Império foi o vice-campeão de domingo com o enredo “Foi malandro, é...”, enquanto a Mocidade foi vice de segunda (“Mamãe eu quero Manaus”) e a Ilha foi apenas a quinta de domingo (“Quem pode, pode. Quem não pode…”). No ano seguinte, Ney voltaria para Padre Miguel e Quinzinho, para a Serrrinha, enquanto Aroldo acertou com a emergente Santa Cruz. E a Ilha? Esta promoveu o então jovem Quinho.

Sobrinho na Imperatriz

Após quatro desfiles consecutivos na Unidos da Tijuca com atuações inesquecíveis, o saudoso intérprete Sobrinho se transferiu para a Vila Isabel e cantou o samba “Parece que foi ontem” no disco. No entanto, o intérprete deixou a agremiação antes do Carnaval de 1985, e David Corrêa, um dos autores do samba, foi promovido a puxador na Sapucaí. Sobrinho encontrou refúgio na Imperatriz Leopoldinense e defendeu na avenida o samba “Adolã, a cidade mistério”. No único desfile de Sobrinho na Verde e Branco, a escola ficou em oitavo lugar.

Aroldo Melodia na Santa Cruz e Caprichosos

Além da rápida passagem pela Mocidade em 1984, o saudoso e maravilhoso cantor consagrado na União da Ilha teve duas fugazes incursões em outras agremiações. Em 1985, defendeu na Santa Cruz um criticado samba-enredo em homenagem ao colunista social Ibrahim Sued, e a escola foi rebaixada. Cinco anos depois, Aroldo cantou o samba “Com a Boca no Mundo” para a Azul e Branco de Pilares, que, se não caiu, teve sua trilha sonora detonada por Fernando Pamplona e José Carlos Rêgo na transmissão da TV Manchete.

Rixxa na União da Ilha

O cantor deixou a Portela em 1997 depois de três desfiles, e foi para a Tricolor insulana, pela qual defendeu brilhantemente em 1998 o samba-enredo “Fatumbi, Ilha de Todos os Santos” – curiosamente o último desfile oficial de uma escola transmitido pela TV Manchete. O cortejo foi bonito, mas acabou marcado por alguns percalços, e a Ilha terminou classificada apenas em nono lugar. Rixxa chegou a gravar o samba de 1999 (“Barbosa Lima, 101 anos do Sobrinho do Brasil”) mas deixou a agremiação antes do desfile.

Wander Pires no Salgueiro

Consagrado na Mocidade Independente de Padre Miguel e também com trajetória marcante pela Acadêmicos do Grande Rio, o cantor teve incursões rápidas por diversas agremiações como União da Ilha, Unidos do Porto da Pedra e Estácio de Sá. Mas de todas as passagens efêmeras de Wander, uma foi bastante curiosa: em 1999 o cantor Quinho, depois de oito desfiles pelo Salgueiro, foi para a Rosas de Ouro em São Paulo, e a Vermelho e Branco buscou Wander Pires, um intérprete de perfil bastante diferente, para substituí-lo. No CD, Wander cantou o samba ” Sou rei, sou Salgueiro, meu reinado é brasileiro” de uma forma classuda, com uma bateria bastante cadenciada, enquanto na avenida, os ritmistas de Mestre Louro o colocaram “pra frente”, e o puxador também acelerou o canto, aproximando-se um pouco mais do que fazia Quinho. Apesar da excelente atuação de Wander e de um ótimo desfile, o Salgueiro ficou num injusto sexto lugar em 2000.

Bruno Ribas na Portela

De volta ao Carnaval do Rio pela São Clemente, Bruno Ribas teve passagens marcantes por Unidos da Tijuca, pela qual foi campeão em 2010 e 2012, e Mocidade Independente de Padre Miguel. Mas a trajetória de Bruno como cantor principal no Grupo Especial do Rio começou na Portela, em 2005. Num conturbado momento da escola, houve troca de enredo no meio da preparação, e o desfile foi desastroso, com direito a águia sem asas e Velha Guarda barrada pelo presidente Nilo Figueiredo para que a escola não estourasse o tempo máximo de 80 minutos. Alheio a isso, Bruno Ribas, neto de Manacéa, um dos fundadores da escola, defendeu o criticado samba “Nós podemos: oito idéias para mudar o mundo!” com muita garra, e a escola se safou por pouco do rebaixamento.

Rixxa na Mocidade

O Pavarotti do Samba já era um cigano da folia, com passagens muito lembradas por Salgueiro, Estácio e Portela, além de incursões em outras agremiações como União da Ilha, Mangueira e Imperatriz (estas duas últimas como apoio), e desfiles nem tão lembrados no Acesso (Unidos da Ponte, São Clemente e Arrastão de Cascadura). Curiosamente, o primeiro desfile da atual década teve Rixxa numa vitoriosa agremiação, em união tão curiosa como efêmera: na Mocidade, Rixxa foi cantor principal ao lado de Nêgo. Talvez essa parceria não seja tão lembrada porque o samba e o enredo “Parábola dos Divinos Semeadores” passaram um pouco despercebidos: sétimo lugar entre nove escolas julgadas – Portela, Ilha e Grande Rio foram hors concours devido ao incêndio na Cidade do Samba.

Quinho na São Clemente

Muita gente não deve se lembrar, mas Quinho já defendeu a São Clemente. Foi no Carnaval de 1993, o mesmo em que o cantor foi campeão pelo Salgueiro. No Acesso, Quinho levou o samba “O pão nosso de cada dia”, e a Aurinegra terminou o desfile na sétima colocação.

Parcerias que não se concretizaram

Além das passagens efêmeras já citadas, outras nem sequer se concretizaram na avenida, com puxadores cantando o samba no disco/CD mas não desfilando na Sapucaí. Vamos a elas?

Silvinho do Pandeiro no Império Serrano

Em 1989, o veterano cantor consagrado na Portela puxou o samba do Império na gravação do disco, mas na avenida os intérpretes oficiais foram Paulo Samara e Roger da Fazenda.

Sobrinho na Vila Isabel e na Ilha

Como já citado no texto, o inesquecível cantor não defendeu a Vila mesmo depois de ter gravado o samba no disco. David Corrêa e Gera levaram o samba na Sapucaí, e a escola conquistou um excelente terceiro lugar. Em 2008, Sobrinho chegou a ser anunciado como puxador da Ilha, mas não cantou nem no CD nem na avenida.

Rixxa no Império Serrano

Em outro caso envolvendo a escola da Serrinha, Rixxa gravou a excelente obra “Império Serrano, um ato de amor” para o Carnaval de 1993, mas na avenida novamente coube a Roger da Fazenda ser o cantor principal. Curiosamente, Rixxa participou de diversas faixas do Império no fantástico CD da Coletânea Sony, lançado naquele mesmo ano.

É claro que em tantos anos de desfiles, muitos intérpretes já defenderam escolas de samba em apenas um Carnaval e a memória pode ter deixado passar alguma coisa. Vocês, leitores, gostariam de lembrar mais algum caso? Usem a área de comentários! Até o próximo texto da série!

34 Replies to “Curiosidades da Folia: as efêmeras passagens de intérpretes por escolas”

  1. David do Pandeiro foi da Imperatriz em 2003, gravou “Breazail” em 2004, brigou e foi embora.

    Antes em 1990 esteve na avenida com a São Clemente, sem ter gravado o disco.

  2. Lembro do Preto Joia sendo anunciado no Salgueiro após a saída do Wander, Anderson Paz na Caprichosos após a morte do Jackson e saindo com o Paulo Barros depois da mudança na direção da escola… tem bastante coisa.

    1. Quinho na Grande Rio em 2001 também foi algo diferente.

      Se não tô enganado, nessa passagem de Wander no Salgueiro citada no texto, o Quinho sai do Salgueiro em 99 por causa do polêmico “E Erguei as mãos que o Salgueiro vem aí.”

      1. Sobre o Rixxa, é válido citar que nesse período pós Ilha, até na Unidos da Ponte ele cantou em 2002. Cantou fortemente “Tancredo de novo, nós braços do povo, não esquecerei jamais.”

        Era de manhã. Não tinham 100 pessoas na avenida.

        1. Na verdade ele cantou na Ponte dois anos, 2001/02. Eu desfilei em 2002, com água na canela e o depois senador mineiro visivelmente “trincado” no carro após a minha ala…

      2. Só coloquei casos em que o intérprete defendeu uma escola em apenas um desfile. Quinho cantou em dois desfiles pela Grande Rio (2001 e 2002). Abraços

      3. Sim, como li em 30 Atos, Quinho poderia ter sido preso por causa de ter cantado aquele sucesso do Padre Marcelo, e tudo por sugestão dos filhos

          1. Pelo mesmo motivo do qual Chico Spinoza foi detido antes do desfile da Unidos da Tijuca em 2000: ofensa à Igreja Católica.

          2. Desculpe, eu acabei me equivocando e confundindo o caso do Quinho com o do Spinoza em 2000. Na verdade, era um pedido de liminar impedindo que ele cantasse a música do Padre Marcelo no esquenta.

  3. Não podemos esquecer do Gera que cantou na Imperatriz em 1983 antes de brilhar na Vila Isabel e Portela.

    1. Na verdade, o Gera só gravou os cacos no disco com o conjunto As Gatas. Na avenida, cantaram Tuninho Professor e David Corrêa, segundo a transmissão da TV Globo e a matéria do JB sobre o desfile. Abraços

      1. David Corrêa, diga-se de passagem, também esteve no carro de som da Imperatriz em 1988, autor do samba que foi ao lado de Guga, Gibi e Zé Katimba.

  4. Prezado amigo Fred, lembro de mais alguns exemplos: no Acesso A de 2010, Preto Joia gravou o samba da Inocentes de Belford Roxo no CD oficial, mas foi dispensado antes do desfile. Quem defendeu na avenida foi o novato Nino do Milênio – que voltou a escola recentemente.

    No mesmo Acesso A de 2010, Anderson Paz chegou a ser anunciado como intérprete do Império Serrano mas deixou a escola antes de gravar o CD, sendo substituído pelo quinteto que tinha Bico Doce (atualmente no carro de som da Mangueira) e Arthur Franco, hoje na Imperatriz. Curiosamente, nove anos depois, o Anderson está no próprio Império.

    Em São Paulo, o Vai-Vai fez isso três vezes: em 2014 contratou o Bruno Ribas que acabou dispensado depois de ter gravado o CD. Em 2015 contratou o Luizinho Andanças e fez o mesmo. Em 2018 contratou o Wantuir que foi dispensado antes de gravar o disco. Nos dois primeiros casos a escola teve de refazer a gravação do CD.

      1. Carlos Alberto, o Anderson Paz, aliás, aparece de relance empolgadíssimo durante a transmissão da Globo no esquenta da Portela de 1997.

        1. Anderson Paz, pra quem não sabe, é cria da Portela. Foi chutado de lá pelo Gera quando este chegou

  5. Eu também cito uma outra passagem efêmera. Me lembro que no disco de 2003, enquanto Nêgo estava de volta à Unidos da Tijuca, Wantuir cantou o samba do Império Serrano.

    Tanbém iria citar o caso da Alcione, que gravou a faixa da Tradição de 2004 (nada mais nada menos que o remake de Contos de Areia, que na avenida foi defendido por Lourenço e Wander Timbalada), mas a Marrom foi convidada até como uma homenagem à Clara Nunes (as duas eram amigas).

    Abraço.

  6. Ótimo texto Fred, já esquentando os tamborins para o Carnaval!

    Além dos casos citados, lembrei da rápida passagem de Serginho do Porto pela São Clemente em 1999, sendo que no CD quem gravou foi o Márcio Souto (que fim levou, aliás?), Preto Jóia na Tradição em 2005, Tiãozinho Cruz no Império Serrano em 2012 e o saudoso Carlinhos de Pilares na Unidos da Tijuca em 1994 e na Portela em 1995.

  7. algumas passagens relâmpagos em sampa:
    Royce do Cavaco na Tom Maior em 2006;
    Douglinhas na X-9 em 2006;
    Vaguinho na Vai-Vai 2007;
    Bruno Ribas na Império de Casa Verde em 2008 ;
    Zé Paulo na X-9 em 2011;
    Wantuir na Tucuruvi em 2014.

Comments are closed.