Desde o final de 2002 eu tenho esse adesivo colado na janela do meu quarto:  era a propaganda da candidatura de Bebeto de Freitas à presidência do seu clube de coração, o Botafogo.

Assim como Bebeto, também sou botafoguense. Nunca me envolvi diretamente com a política do clube, mas naquele ano um amigo do meu pai participava da campanha do Bebeto e sugeriu que pegássemos brindes no comitê de campanha. Pegamos adesivos e camisas, que eu distribui entre os colegas botafoguenses do colégio. Eu tinha 10 anos de idade.

Naquela época, muito nova, eu não tinha a dimensão exata da importância do Bebeto para o esporte brasileiro. Apenas confiava no meu pai que dizia que ele era um botafoguense apaixonado (sobrinho de João Saldanha e primo de Heleno de Freitas) e que tinha feito história no vôlei. E naquela altura, Bebeto era a melhor opção para ser presidente do clube depois de uma péssima gestão de Mauro Ney Palmeiro.

Bebeto foi eleito e pegou um Botafogo destroçado. Na série B, sem estádio e atolado de dívidas.  Se em algum momento de sua história centenária o Botafogo esteve próximo de fechar, foi ali. Mas ao poucos,  Bebeto escolheu um treinador (Levir Culpi), montou um time e reformou o estádio de Caio Martins.

Em uma segunda divisão com um regulamento completamente diferente da atual, com apenas duas equipes subindo, o Botafogo conseguiu o acesso sofrido. Aquela classificação ficou conhecida como “O resgate da dignidade” e rendeu um documentário de mesmo nome. Recomendo para quem quiser entender melhor o que o clube passou naquele período.

Foi Bebeto que começou o caminho de reconstrução do clube (em que pese a destruição posterior do presidente seguinte). Bebeto era apaixonado pelo clube. Tinha o Botafogo no coração. E foi justamente esse o nome escolhido para o primeiro programa de sócio torcedor do alvinegro. Foi Bebeto o presidente na conquista do estadual de 2006 depois de oito anos sem títulos.

Foi Bebeto que apostou em Cuca em 2007. Um time que não levantou taças, mas que fez muito alvinegro ter orgulho do futebol praticado pela sua equipe. Era o “carrossel alvinegro”. Foi Bebeto que sempre defendeu o Botafogo e até chorou quando se sentiu no direito.

Foi com Bebeto que o Botafogo conseguiu vencer a licitação daquele que seria o seu estádio (então João Havelange hoje Nilton Santos). Durante dois mandatos, Bebeto representou o clube. Com erros e acertos, é claro. Mas foi ele que teve a coragem de pegar aquele clube no fundo do poço.

Foi Bebeto um dos responsáveis por revolucionar o vôlei brasileiro. Principalmente.  Se hoje o esporte tem todas essas conquistas, títulos e medalhas olímpicas, agradeçam também a ele. A importância e dimensão do ex-treinador da geração de prata pode ser verificada nas várias homenagens que correram o Brasil e o mundo no dia de seu falecimento.

Quis o destino que essa grande figura do esporte falecesse dentro de um Centro de Treinamento. De um outro alvinegro…

Eu não tinha a dimensão dos feitos de Bebeto naqueles meus 10 anos.

E, hoje, aos 26, permitam-me compartilhar um pouquinho do que lembro dele como botafoguense.

Quase parecido com aquele meu adesivo que ainda tenho colado na janela do meu quarto.

Bebeto, esportista vencedor.

Imagem: Arquivo Pessoal e Ivo Gonzalez

[N.do.E.: a minha geração, que tem mais de 40 anos, se lembra do Bebeto de Freitas desbravador do vôlei brasileiro. Grande perda, e que me choca mais ainda pela idade e circunstâncias do falecimento idênticas às do meu pai. Descanse em paz. PM]

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3 Replies to “Bebeto de Freitas”

  1. Um dos principais responsáveis, senão o maior, pelo vôlei brasileiro ter atingido o patamar em que se encontra hoje. E ainda foi campeão mundial com a Itália! Como bem diz a autora do texto, tirou o Botafogo quase que do fundo do poço, e o entregou brigando na parte de cima da tabela do Brasileirão. É dele uma das melhores entrevistas que já vi um presidente de clube grande dar, para a Revista Placar, em 2004, senão me engano, direta e honesta, sem rodeios. Um grande exemplo. Que descanse em paz…

    1. Aliás, não deixa de ser uma tremenda ironia a maior glória esportiva dele ter sido pela Itália, o título mundial

      1. Sim, consequência direta de ter denunciado lá atrás todos os escândalos da CBV que hoje todo mundo sabe… Um absurdo…

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