por Fellipe Barroso

Este Guia da Intendente Magalhães teve sua estreia em 2017. Assim como o “Guia Prático da Sapucaí”, escrito pelo Editor-chefe Pedro Migão, que já é uma tradição a cada carnaval aqui neste Blog, o da Intendente visa a dar dicas e esclarecer algumas dúvidas para quem deseja assistir ou desfilar (E por que não os dois?) nas Atuais séries B, C, D e E do carnaval carioca.

Pouca coisa mudou de um ano para o outro. Acrescentei algumas dicas de maneira a torná-las mais claras, e atualizei as fotos com imagens de 2017.

Comecei a frequentar o carnaval da Intendente Magalhães em 2013, quando a Atual Série B deixou de desfilar na Marquês de Sapucaí na Terça-feira gorda de carnaval (O melhor dia de todos do sambódromo do Rio, em minha opinião) para ter suas apresentações no complexo do Bairro Campinho. Não fui o único a fazer esta “migração” que serviu para me apresentar este outro lado da folia mais espontânea das Escolas de Samba, tão sumida nos grandiosos shows da Sapucaí.

Em seu primeiro ano de Intendente, por sinal, a Série B desfilou em pleno Domingo de carnaval. Na terça-feira, dia em que compareci, desfilou o Grupo E (A última divisão). Percebendo a maior demanda de público neste dia (Engrossado pelos “órfãos” da Sapucaí), a LIESB mudou os dias dos grupos em 2014, e o cronograma permanece o mesmo até hoje.

De 2013 aos dias atuais, a saudade da Série B na Sapucaí permanece, mas a Intendente proporcionou (E continua proporcionando) uma aproximação junto às Escolas de Samba e seus protagonistas que a fria estrutura de concreto armado da Marquês deixa longe. É possível ver criatividade extrema na criação de fantasias, adereços e alegorias, com uso de materiais simples, baratos, e de efeito muito bonito. A estrutura do local exige das Escolas um trato de seus pertences bem diferente do sambódromo.

Um exemplo que aprecio abismado (No bom sentido) é a colocação e retirada da iluminação dos carros alegóricos, feita às pressas antes do início e após o término dos desfiles. A Série B, aliás, parece grande demais para o espaço que ocupa.

Terça-feira na Intendente, por exemplo, é dia de passar a limpo os quatro dias anteriores. Quem estava na pista trabalhando vai para lá, seja para trabalhar mais um pouco, ou se distrair. Você pode estar de bobeira conversando na mesa de uma barraquinha qualquer e do seu lado aparecer um intérprete, carnavalesco, ou casal de mestre-sala e porta-bandeira de quem é fã e começar a trocar uma ideia como se os conhecesse há anos! (Cito, respectivamente, Ciganerey, Cid Carvalho e o casal Marquinhos e Giovana, em situação que já aconteceu comigo)

Parte I – Desfilantes

Nunca é demais lembrar que o trabalho de um ano estará em avaliação. Portanto, não atrapalhe!

Não é porque estes desfiles possuem quase nenhuma visibilidade junto à grande mídia que se trata de uma “terra livre”. As Escolas serão avaliadas pelos mesmos quesitos e com o rigor adequado à realidade de cada grupo. Se você, leitor, quer pular livremente o seu carnaval, opte por um bloco. Respeito às Agremiações, suas bandeiras e histórias, é sempre bom!

Sou mais um espectador do que um desfilante, mas já tive minhas experiências neste outro palco carioca. Assim sendo, ficam as recomendações que o Migão já deixou no “Guia…”, e acrescento como fiz para participar de alguns desfiles.

1 – Rumo ao “desconhecido”…

Então você chegou à Intendente Magalhães, e resolveu que vai desfilar naquela Escola simpática que há tempos não dá as caras na Sapucaí, e cujo o samba do ano não sai da sua cabeça? Ok, dirija-se à área de armação da Escola, na própria Intendente, e verifique junto aos Diretores e Presidentes de Alas se há alguma fantasia disponível. Havendo, sendo do seu gosto (Fundamental para que o desfile seja divertido), e servindo bem (Mesmo com alguns ajustes), caia na folia!

Pode acontecer de, do nada, você ser convocado como componente para alguma ala a poucas horas (Ou minutos) do desfile. Fui “convocado” em todos estes anos de Intendente, e topei em alguns casos. O último deles em 2017 (Vide fotos desfilando na tradicionalíssima Em cima da Hora).

2 – Carência de mão de obra

Algumas Escolas podem carecer de uma força maior nas horas que antecedem seus desfiles pelos mais diferentes motivos. Assim sendo, pode haver “vagas” que vão de Diretor de Harmonia a empurrador de carro!

Exercendo qualquer uma destas funções, ou desfilando fantasiando, tenha sempre em mente de que é um concurso. Problemas de última hora podem acontecer, e, se você se comprometer, ainda que “em cima da hora” (que também desfila na Intendente… ok, não resisti!), seja sério na função que lhe foi delegada.

Esta seriedade implica em conhecer adequadamente o papel a ser desempenhado. Sim, a Escola pode estar precisando muito de alguma mão de obra específica de última hora para auxiliar na condução de seu desfile; mas se você nunca fez isso na vida, não escolha este momento para sua estreia.

3 – Respeite as determinações da Escola

Este item completa o anterior, e é válido para o fato de nas últimas divisões, por exemplo, homens completarem a ala das baianas.

Das muitas histórias do carnaval, sabe-se que esta é uma proibição para lá de antiga, mas já vi muitos bigodes e gogós no lugar das simpáticas senhoras.

Em 2013, assistindo a Série E (Última divisão), todas as Escolas tinham pelo menos um homem entre suas dez baianas. Na Série B isto não é tão comum, mas acontece também, conforme registro que fiz ano passado!

Nunca pesquisei ou me esclareci se há alguma “tolerância” para isto de fato, mas, se Escola assim determinou e você, leitor homem, foi cogitado de vestir as peças sagradas do vestuário da baiana, siga em frente, e não discuta!

Tome sempre o cuidado, claro, de averiguar junto a outras pessoas da Escola sobre a estas determinações para não pagar de “intruso que fez besteira”.

Parte II – Para Quem Vai Assistir

Os desfiles na Intendente Magalhães são gratuitos. Ali é uma grande festa de rua aberta a todo e qualquer público que queira ir lá para desfilar, assistir, ou simplesmente passear. Quem me dera os desfiles no Sambódromo tivessem este clima de “quintalzão”…

1 – O complexo

A Estrada Intendente Magalhães fica fechada ao trânsito desde seu início, um imenso portal escrito “Intendente Autoshopping” devidamente “adornado” por um supermercado Prezunic (À esquerda) e uma igreja “A luz do mundo” (À direita), que faz esquina com as Ruas Cândido Benício, Domingos Lopes e Ernâni Cardoso.

Poucos metros adiante do portal começa a área de armação das Escolas, seguida da concentração, e por fim, um pouco antes da quadra da Tradição, o início da pista de desfile.

A área de armação vai além da Intendente, ocupando a pista lateral esquerda da Ernâni Cardoso, esta com trânsito parcialmente impedido para dar espaço às alegorias.

Há o sambódromo, montado com arquibancadas de metal e madeira, banheiros químicos, cabines de jurados e cabines de imprensa (na mesma altura que as arquibancadas); e entorno do sambódromo, composto pelas casas dos moradores e todo tipo de barraquinha vendendo em sua esmagadora maioria comida e bebida.

A pista é de asfalto “puro”: preto (Diferente do branco/gelo da Sapucaí) e com sinalização de trânsito. Ela também é ligeiramente curva. De seu início não é possível ver o fim.

2 – Assistindo aos desfiles

As arquibancadas são estruturas montadas em contêineres, dispostos em sequência e com algum espaçamento entre eles, o que permite o acesso dos espectadores. Possuem piso em madeira, com quatro degraus, o que não deixa as pessoas muito altas e as aproxima ao máximo dos desfiles.

Não havendo catracas ou muito controle de acesso, basta “conseguir entrar”, e buscar um lugar vago. As arquibancadas muito cheias possuem algum controle de acesso feito por funcionários credenciados e com apoio da Polícia Militar. Nada muito violento. Aliás, costuma ter mais gente se espremendo entre as arquibancadas do que sentado nelas. Vai entender…

Há outras partes da pista sem arquibancadas, apenas com grades móveis, onde se pode assistir a tudo de pé. Algumas delas são completamente tomadas por moradores que “montaram acampamento” em seus quintais, com cadeiras de praia, plástico, ou similares, mesinhas, muita comida, bebida, televisão e até jogatina (de tabuleiro a jogo de cartas).

Não existe um recuo para a bateria. Uma vez que ela deixa o box no início da pista (Na Rua Capitão Couto Menezes), seguirá na mesma posição dentro da Escola até o final do desfile.

O contato visual e sonoro com as Escolas é excepcional. Na Intendente cada aplauso, vaia, ou grito de qualquer coisa é nitidamente ouvido na pista. Há muita brincadeira entre desfilantes e espectadores. Isto torna o desfile ainda mais divertido. O som da avenida é distribuído por caixas ao longo de seu percurso, mas não são ensurdecedoras como as da Sapucaí.

Entre uma escola e outra, a pista de desfiles é “invadida” em sua maioria por crianças. Tudo é muito respeitoso, e ao menor sinal todo mundo libera a avenida para a passagem da próxima Escola.

3 – Curtindo o entorno

O entorno do sambódromo é formado por uma multidão de pessoas que simplesmente foi lá para brincar o carnaval à sua maneira. As dezenas de barraquinhas com comidas e bebidas podem saciar a fome de todos os gostos (sim, dá para fugir dos churrasquinhos e cachorros quentes – tipo “podrão” – dominantes. É só procurar!).

Muitas pessoas andam fantasiadas, seja com trajes tipicamente carnavalescos, ou restos de fantasias já usadas pelas escolas que desfilaram. É possível pegar muito material de graça por lá! Para quem trabalha com artes de forma geral (ou mesmo com carnaval), a Intendente é um mercado gratuito muito válido!

Infelizmente, por ser uma rua, há muitos outros sons além dos desfiles, desde os ambulantes até os próprios moradores, que tocam de tudo (samba, pagode, axé, sertanejo universitário, e claro, funk). Nunca vi estes outros sons atrapalharem as Escolas desfilantes.

É notável que as barracas no perímetro da pista de desfiles não possuem qualquer música tocando. Imagino que este tipo de controle seja feito pela organização do evento, e é bastante de acordo com a festa, não atrapalhando o som das Escolas.

A Intendente também é um bom lugar para se conseguir materiais diversos, restos de fantasias, alegorias e adereços muitas vezes abandonados pelas Escolas. Boa parte delas recolhe tudo na “área de dispersão”, que é todo o espaço disponível após a linha de término de desfile. Mesmo assim, há muito o que se recolher entre tecidos, aramagens, acetatos, etc. Se você, leitor, trabalha com festas, eventos, e até mesmo dentro do carnaval, aproveite o momento para garimpar e economizar, já que o acesso é bem mais tranquilo que a dispersão da Sapucaí!

4 – Chegando ao local

Pode até ser que o leitor que possua carro ache conveniente, caso more muito longe, se conduzir ao local em seu veículo particular. A pessoa que vos escreve nunca recomenda isso por entender que carnaval é período de diversão em que rolam bebida alcoólica e cansaço físico. Assim sendo, o transporte público coletivo é sempre bem vindo.

Além de diversas linhas de ônibus que passam próximas (na “porta”), há o sistema BRT, cuja estação Campinho é em frente ao “portal de entrada” do complexo. É sempre bom se certificar dos horários de funcionamento de todos os modais que forem utilizados para se chegar ao local no intuito de, ao se querer ir embora, não ter que esperar amanhecer para retornar ao lar. O trem deixa na estação Madureira, a uma distância caminhável.

Até o fechamento deste Guia, é sabido que o sistema BRT normalmente funciona 24 h. Em operação especial, os trens da Super Via funcionarão 24 h durante os dias de Momo.

5 – Apetrechos a serem levados

Não havendo o rígido controle da Marquês de Sapucaí, se o leitor quiser levar uma geladeira para o local, não haverá muito problema, desde que ele saiba como carregá-la e energizá-la. Apenas acredito que não conseguirá entrar na arquibancada com uma Brastemp nos braços…

Capas de chuva, bolsas impermeáveis e material de proteção contra as águas do céu são bem vindos. Assim como na Sapucaí, exclua os guarda-chuvas de sua bagagem. Eles incomodam na Intendente também.

6 – Se for desfilar

Basicamente siga as recomendações da parte I.

Não há guarda-volumes ou qualquer outra estrutura para se guardar um lugar ou fantasia na arquibancada enquanto se desfila. Se estiver em grupo, os amigos cuidarão disso. Estando sozinho, saiu da arquibancada, perdeu o lugar!

7 – Aprenda os sambas

Faço minhas as palavras do Migão no “Guia…”:

Procure ouvir os sambas antes do desfile. Cante com a escola. O CD está à venda nas lojas “D´Samba” existentes em diversos shoppings.

Muitas pessoas, pelas circunstâncias já descritas anteriormente, nem conhecem a Escola pela qual estão desfilando. Não seja esta pessoa. Respeite as Agremiações!

8 – Telefonia/Internet

Mantenha seu plano de Internet móvel em dia, ou usurpe o Wi-fi do amigo que mora por perto! Melhor que a Sapucaí, como vêem.

9 – Divirta-se

Cante, brinque, respeite. Seu direito começa onde termina o do outro, lembre-se sempre.

10 – Onde Fellipe estará

Série A (Sexta e Sábado) nas frisas do Setor 3. Grupo Especial (Domingo e Segunda) na arquibancada do Setor 6. Terça-feira gorda na Intendente Magalhães em frente à loja Flay-Rio (Temporariamente hospedado na casa da amiga que mora próximo a este local).

(colaborou o editor chefe Pedro Migão)

Imagens: Arquivo do Autor

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12 Replies to “Guia Prático da Intendente Magalhães 2018”

  1. Muito bom o artigo, me motivou a finalmente ir conhecer a Intendentes!
    Parabéns ao Felipe e a todo o pessoal do Blog!

  2. Refaço as palavras que fiz ao Migão também: seria legal algumas fotos serem de detalhes da estrutura, mapa dos arredores… querendo, a gente combina pra eu montar no Photoshop e ficar mais detalhado ainda.

    Perfeito guia, Fellipe!!

    1. Sugestões mais do que aceitas! O guia de 2019 deverá ficar pronto logo após a quarta-feira de cinzas, pois já o imaginei redigido de maneira diferente também incluindo as informações solicitadas.

      Muito obrigado pelas dicas!

  3. A festa popular na Intendente realmente parece ser muito legal, mas as condições só me fazem ter mais certeza de que a Série B precisa retornar para a Sapucaí na Terça-Feira de Carnaval…

  4. Parabéns pelas excelentes dicas do Guia! Passei o dia tentando achar um lugar para ir no noite de hoje. Arrebentou suprindo a carência de guias que tratem melhor dos diversos “Carnavais” da Zona Norte! Uma contribuição pequena: senti falta de dicas como melhor horário para ir e onde achar a ordem dos desfiles. Obrigado, estou saindo para lá!

    1. Anotado!
      No próximo Guia estas informações estarão lá!

      Muito obrigado pelas palavras!
      Fellipe Barroso

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