Comprei recentemente o ótimo livro “Por que perdeu?”, do jornalista de “O Globo” Marcelo de Mello. A obra relembra dez desfiles que entraram para a história do carnaval mas não foram agraciados com o título.

Com ótima pesquisa e narrativa muito bem encadeada, o livro nos leva para dentro da avenida e questiona como os jurados não traduziram nos mapas de notas apresentações tão arrebatadoras e memoráveis.

Pois bem, cabeça de jurado realmente não dá pra entender às vezes, então puxei pela memória outros desfiles bastante injustiçados, não necessariamente para serem campeões, mas que mereciam melhor reconhecimento dos julgadores.

Mocidade-1987 (“Tupinicópolis”)
O canto do cisne do inesquecível carnavalesco Fernando Pinto teve a metrópole indígena retratada na avenida com extrema criatividade. Teve a Boate Saci, o Tatu Guerreiro e a moeda Guarani, que valia o equivalente a 500 cruzados. Até mesmo o samba, considerado limitado pela crítica da época, cresceu na avenida com o saudoso Ney Vianna e a extraordinária bateria. Mas inexplicavelmente a Mangueira foi bicampeã, sem contar ainda os injustiçados desfiles do Salgueiro e da Vila Isabel, que, para alguns, também eram merecedores do título.

Mangueira-2003 (“Os Dez Mandamentos – O samba da paz canta a saga da liberdade”)
Rumo ao bicampeonato, a Manga levou para a Sapucaí a história de Moisés e a libertação dos hebreus. Max Lopes desenvolveu um excelente trabalho com alegorias e figurinos de extremo luxo e bom gosto, e na pista a Verde e Rosa esteve muito bem em todos os quesitos. No fim, o apenas bom desfile da Beija-Flor foi agraciado com o título, apesar de problemas em alguns carros e com uma surpreendente vantagem de um ponto.

Salgueiro-2007 (“Candaces”)
Depois de um inédito (e exagerado) 11º lugar no ano anterior, a Vermelho e Branco de Renato Lage apostou num enredo proposto pelo departamento cultural da escola sobre as rainhas da África Oriental. Com um belo samba e uma plástica que agradou do começo ao fim, inexplicavelmente o Salgueiro ficou apenas em sétimo lugar quando deveria estar na disputa pelo topo; título seria difícil pela excepcional apresentação da Beija-Flor.

Portela-2014 (“Um Rio de mar a mar: do Valongo à Glória de São Sebastião”)
Com um samba-enredo de qualidade, uma atuação perfeita nos quesitos de pista como Bateria, Harmonia e Evolução, e um visual praticamente impecável, a Águia despontou como favorita à quebra do jejum. Mas a Unidos da Tijuca, com um desfile correto e criativo mas com pequenos senões na homenagem a Ayrton Senna, adiou o sonho portelense, que curiosamente seria quebrado com a assinatura de Paulo Barros três anos depois. A Portela ficou em terceiro lugar.

Império da Tijuca-2014 (“Batuk”)
No mesmo ano, uma injustiça às avessas. Abrindo os desfiles do Grupo Especial, o Imperinho do carnavalesco Júnior Pernambucano se comportou bem para quem voltava à elite depois de 18 anos. Apesar de alguns problemas estéticos talvez pela escassez de recursos, o enredo foi bem encadeado e apresentado, e o samba-enredo teve ótimo desempenho. Mas o Império caiu inapelavelmente em último, mesmo com o fraco desfile da São Clemente e a calamitosa exibição da Vila Isabel nos quesitos plásticos.

– São Clemente-2015 (“A Incrível História do Homem Que só Tinha Medo da Matinta Pereira, da Tocandira e da Onça Pé de Boi”)
Com a assinatura da campeoníssima Rosa Magalhães, o desfile em homenagem a Fernando Pamplona teve um conjunto alegórico criativo e um enredo muito bem desenvolvido. Mas na apuração a escola da Zona Sul ficou num distante oitavo lugar, quando poderia ter alcançado o sábado das Campeãs, superando as medianas apresentações de Mocidade e Grande Rio.

Unidos de Padre Miguel-2017 (“Ossain: o poder da cura”)
Depois de bater na trave nos anos anteriores, a agremiação de Padre Miguel tinha tudo para conquistar o título da Série A e, consequentemente, a sonhada vaga no Grupo Especial. O samba funcionou de forma maravilhosa na voz de Pixulé, o visual era de elite, mas infelizmente uma queda da porta-bandeira Jéssica rendeu perda de pontos. Mesmo assim, o quarto lugar, a 1,4 ponto do campeão Império Serrano, saiu exagerado e a escola deveria ter brigado pelo título mesmo assim…

E aí, amigos, vocês acrescentariam outros “porquês?” aos desfiles relembrados nessa coluna?

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14 Replies to “Por que foram injustiçados?”

  1. Não entendi a inclusão do Desfile da Unidos de Padre Miguel numa lista de desfiles injustiçados.a Porta bandeira caiu ,infelicidade da escola,e não injustiça dos jurados.

    1. A questão, Rubem, é que não se viu com os problemas de outras escolas o mesmo rigor que o verificado quanto a este problema. O próprio Império Serrano tinha diversas alas com problemas em chapéus e sandálias/sapatos que foram ignorados pelo júri. E por aí vai

    2. Boa tarde, Rubem, obrigado por escrever. Duas coisas:

      1 – deixei claro que, apesar do incidente da porta-bandeira, a UPM poderia disputar o título, mas não necessariamente o ganharia. Mas o quarto lugar foi absurdo, apesar do que aconteceu.

      2 – No começo do texto eu deixo claro que estou escrevendo sobre injustiças em geral, não necessariamente título. Falo de posição nas campeãs e rebaixamento também.

  2. sabino,o desfile da beija,vc foi até simpático para falar que é bom,porque foi nesse,por exemplo,que lula passou na mão direita com seis dedos ,mas sabe-se que ele possui apenas quatro ,lá em 2003,só o samba foi realmente acima da média,abçs.

    1. Quando digo bom desfile é porque há outros quesitos como comissão, enredo, casal, evolução, harmonia, samba, bateria… então houve vários pontos positivos. Mas de fato houve problemas estéticos importantes que os jurados não despontuaram. Abs

  3. Olá Fred, ótima coluna, é sempre importante relembrar a injustiça cometida com estes desfiles, para não serem esquecidos pela lógica cruel dos resultados… Vou acrescentar alguns que, na minha opinião, também foram injustiçados pelos jurados:

    Portela 1991 – Apanhou excessivamente dos jurados. Pelo menos um 3º, 4º lugar merecia…

    Portela 1995 – Desnecessário explicar né?

    Mocidade 2002 – Para mim, melhor desfile depois da Mangueira. Vice-campeã com sobras.

    Portela 2002 – A que levou mais porrada nesse ano. Merecia o 3º lugar e ficou em 8º!

    Império Serrano 1996, 2002 e 2006 – Merecia voltar nas campeãs nos três anos, mas infelizmente os jurados não concordaram…

    Unidos da Tijuca 1998, Porto da Pedra 2000, São Clemente 2002 e Santa Cruz 2003 – Inexplicavelmente rebaixadas devido à excessiva boa vontade do júri com a Tradição em todos esses anos…

    Mangueira e Unidos da Tijuca 2006 – Dois desfiles para disputar o título que, além de longe disso (4º e 6º, respectivamente), ainda ficaram atrás do problemático desfile da Grande Rio…

    Estácio 2007 e 2016- Na minha opinião, apesar de algumas falhas, não merecia o rebaixamento nesses dois Carnavais.

    União da Ilha 2010 – Fez desfile não só para escapar do rebaixamento, mas talvez até voltar nas campeãs. Ficou em 11º…

    São Clemente 2012 – Outra que poderia voltar nas campeãs e ficou bem longe disso no resultado oficial…

    Inocentes de Belford Roxo 2013 – Apesar de não ter merecido subir (outro assunto), não merecia cair. Fez um desfile muito superior a Mocidade, São Clemente e Grande Rio.

    Grande Rio 2014 – Na minha opinião, a melhor de domingo.

    União da Ilha 2003, Paraíso do Tuiuti 2003, Renascer de Jacarepaguá 2010, Cubango 2011, Império Serrano 2012 e 2015, Unidos de Padre Miguel 2015 – Desfiles que mereciam o título ou disputá-lo nota a nota (no caso dos injustiçados no mesmo ano) e perderam para desfiles muito, mas muito abaixo…

    Estácio 2004 – Não acho que merecia cair, apesar dos problemas…

    Rocinha 2012 – Belo desfile que seria inexplicavelmente rebaixado!

    São Clemente 1997 – Um completo absurdo ficar atrás da Tradição…

    1. Muito boas lembranças! Principalmente Portela 1991 e 2002, Ilha 2003 e 2010, Mangueira 2006, São Clemente 2002 e Tijuca 1998.

  4. São Clemente 2015 é forçar a barra. Desfile pra voltar nas campeãs, quando muito! Mas, pra título!!!! Bem Menos!
    Salgueiro 2007 vice seria perfeito. Ultrapassar aquele monumental desfile da Beija, jamais! A colocação é, sem sobra de dúvidas, uma das maiores aberrações da história do carnaval, bem como o não título da Manga em 2003 que foi dado à minha amada Beija Flor numa dessas “tacadas” insanas, injustas do carnaval. Era da verde e rosa com sobras.
    Pra um livro que, segundo você, fez uma pesquisa minuciosa, deixar de fora dessa lista “Agotime” 2001 já me faz ver tal obra com certa desconfiança e descredibilidade
    Inaceitável não apontar o desfile da Beija Flor em 2001!!!!

  5. Para atualizar a lista, outros injustiçados, pelo menos na minha opinião, foram a

    1-Unidos de Vila Isabel em 2018, um desfile que, mesmo com uma quantidade considerável de problemas, brigaria pelas últimas vagas do Sábado, mas ficou em uma amarga 10ª posição.

    2-Império da Tijuca em 2015 (Mesmo que esse desfile não deveria ter acontecido, de acordo com a postagem acima), que também, mesmo com alguns erros cruciais, uma posição de meio de tabela para um desfile que no minimo correria por fora na disputa de título.

    3-Paraíso do Tuiuti em 2017, mesmo com um desfile visivelmente precário, ficar atras da Unidos da Tijuca, que teve problemas mais prejudiciais, e da Vila Isabel, com aquele show de horrores de plástica do início ao fim.

    4-Acadêmicos do Salgueiro e Mangueira em 2018, visto entre 9 de 10 pessoas como as postulantes ao título, amargaram na 3ª e 5ª posições, respectivamente.

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