Faz muito tempo que não escrevo sobre as escolas de samba do Rio e confesso que bateu aquela saudade. E, agora que estou de férias no trabalho, finalmente vou conseguir bolar um texto aqui. Pois bem, é com bastante alegria que escrevo as linhas abaixo.

É claro que os contextos políticos do país e da nossa cidade me entristecem, bem como o papel do atual prefeito do Rio (cujo nome não gosto de escrever) no que tange o carnaval. Sem falar na posição dos dirigentes das escolas de samba e da Liesa, o que só piorou o panorama.

Mas é animador ver que carnavalescos vêm marcando território e estão abertamente se posicionando contra o que acontece na nossa cara dia após dia. Para não me estender muito, faço o corte desse texto em três nomes: Jack Vasconcelos, Leandro Vieira e Cid Carvalho.

Carnavalesco da Paraíso do Tuiuti, Jack Vasconcelos resolveu fazer uma abordagem diferente em relação à escravidão no Brasil. O enredo mostrará que, na prática, a escravidão persiste no país e o objetivo é tocar na ferida da abjeta reforma trabalhista.

O título do enredo já é uma traulitada: “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”. A pergunta soa até óbvia, mas na verdade trata-se de um contraponto aos antológicos versos do samba-enredo “Sublime Pergaminho” (Unidos de Lucas-1968), que abordava a abolição.

Além disso, uma das alegorias terá o Vampiro do Neoliberalismo usando terno e faixa presidencial numa crítica dura e cristalina ao atual presidente (cujo nome também peço licença para não escrever). Nesta alegoria, os destaques serão divididos em elite e pobres trabalhadores.

Também promete chamar a atenção é a ala “Manifestoches”, na qual os componentes vestirão uma fantasia em que uma mão enorme os manipula como fantoches, com direito a panelas, camisa da Seleção e um pato no meio. Sintomático, não?

E pra ficar melhor ainda, o samba da Tuiuti é um dos melhores da safra de 2018. Torço muito para que a simpática agremiação faça um ótimo desfile, até para deixar de vez no passado as lembranças ruins do lamentável acidente com a alegoria no ano passado.

Já a Mangueira do brilhante carnavalesco Leandro Vieira bate duro no prefeito do Rio pelo corte de subvenção às escolas de samba, com o enredo “Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco!”

A ideia é passear pelas inúmeras manifestações carnavalescas e exaltar a diversidade dos nossos foliões, sem distinção de cor e principalmente de credo, algo que, digamos, para ser polido, não parece ser o ponto forte do atual alcaide da Cidade Maravilhosa.

Uma das alegorias lembrará a transformista Laura de Vison, outra terá um boteco do samba com grandes nomes do gênero. Mas o elemento que mais promete é o que tem um enorme bumbum com celulite e uma tatuagem com o sobrenome do prefeito.

O ótimo samba-enredo deixa claro que é o momento de marcar posição contra o que vem sendo feito com as escolas e clama o povo para sair às ruas e brincar o carnaval – apesar de o presidente da escola e os outros mandatários terem apoiado a eleição de Crivella (ih, falei…)

É claro que como torcedor da Verde e Rosa espero um grande desfile mas, independentemente da posição na tabela, que seja uma apresentação marcante e inesquecível. Amém!

Já Cid Carvalho, de volta como integrante da Comissão de Carnaval da Beija-Flor, levará à avenida o enredo “Monstro ‘é aquele que não sabe amar (os filhos abandonados da pátria que os pariu)”, que promete ser uma grande e contundente crítica social.

O monstro, no caso, remete aos 200 anos da fábula Frankenstein e faz uma associação ao atual momento do país. O samba-enredo também está entre os melhores do ano e terá no canto o mais importante entre os nossos intérpretes, o primeiro e único Neguinho da Beija-Flor.

Claro que ainda é cedo para saber o que esses desfiles representarão na história do nosso Carnaval. Mas tomara que seja uma retomada definitiva de um tipo de enredo que andava esquecido e remete principalmente às inesquecíveis apresentações de Caprichosos de Pilares e São Clemente nos anos 80 e 90.

O Carnaval é uma manifestação do povo e o povo está farto. É hora de explodir o grito! Chega!

(N.do E: em 2016, escrevi um histórico sobre a crítica nos desfiles das escolas de samba. PM)

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7 Replies to “A volta da crítica aos desfiles”

  1. Adoro os textos aqui do blog! Sempre que vejo atualização no face venho conferir! Brilhante como sempre. Espero muito desses desfiles. A Tuiuti pra mim já está rebaixada( sabemos pq), mas espero um desfile daqueles. E que esse carnaval seja maravilhoso, pra nos o povo que ama o samba!

      1. desculpa discordar de vc,mas o samba grande rio na seção historias do sambódromo sobre o carnaval 2004,passou bem sim,realmente não conquistou os críticos,mas o público e até o júri que com duas notas dez,conseguiram não rebaixar a escola naquele ano.e vc escreveu um ótimo texto,seja bem vindo de volta.

  2. Bom ver a escola que achou que a esperança tinha vencido o medo,trazer um enredo mostrando a situação que esse pais se encontra depois de 13 anos dessa quadrilha no governo.

    1. Olha, quem jogou de novo a população ao medo foi a galera que tirou a Presidenta via golpe de estado e impôs uma política neoliberal

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