Algumas semanas atrás estava de bobeira em casa com meu filho Gabriel e pensei “Por quê não ir ao futebol?”.

Acredite caro leitor, isso era muito comum antigamente. Dos tempos em que Dondon jogava no Andaraí até governos descobrirem que poderiam ganhar uma boa grana com arenas famílias planejavam em dias de jogos, no almoço de domingo assistir o futebol no estádio. Tempo que não existiam carnês, ingressos caros para promover programa de sócio torcedor e muito menos a violência que temos hoje em dia.

O jogo era Portuguesa x URT pela série D do brasileiro. Tirando o amigo Emerson Braz que torce pela Lusa paulistana acredito que ninguém tenha tido a experiência de ter uma equipe para torcer na última divisão do futebol brasileiro (tricolores cariocas quase conseguiram essa façanha).

A Portuguesa da Ilha do Governador é um dos pequenos tradicionais do Rio de Janeiro. Disputou vários campeonatos estaduais da primeira divisão e tem seu estádio, o “Luso Brasileiro” que também era conhecido como o “Estádio dos Ventos Uivantes” devido ao forte vento que sempre bateu no local.

Esse vento fez que o primeiro gol de goleiro fosse registrado no futebol brasileiro, do goleiro Ubirajara do Flamengo em 1970 contra o Madureira. O maior orgulho da Portuguesa foi, acreditem é verdade, vencer o Real Madrid em pleno Santiago Bernabeu por 2×1 em 1969.

Mas a realidade era outra. A Portuguesa é um clube que passou um bom tempo na segunda divisão do carioca e vem se acertando nos últimos anos fazendo não só boas campanhas sem riscos de rebaixamento no estadual como conquistando a vaga para a série D.

Fez uma bela campanha na primeira fase se classificando em primeiro em seu grupo de forma invicta e fazendo a melhor campanha de todo o campeonato tendo sempre a primazia de decidir em casa. Seu adversário era para ser o Juazeirense, mas como nessas divisões o tribunal rola solto com erros cometidos pelos clubes acabou que o adversário mudou e foi o URT.

No primeiro jogo a Portuguesa perdeu por 1×0 e teria que vencer em casa. Uma grande campanha de mídia e marketing foi feita no bairro chamando torcedores para apoiar a Lusa. O estádio reformulado pelo Flamengo e com gramado impecável era outro atrativo, daí surgiu a chance de ir ao jogo já que infelizmente só recebendo dinheiro da Odebrecht ou verba do Temer para ter condições de comprar ingresso para ver o Flamengo na Ilha do Urubu.

Ingresso 10 reais, baratinho e clima completamente acolhedor encontrando vários conhecidos. Já dentro do clube uma paradinha na cantina para comprar salgadinhos e refrigerantes para mim e Gabriel. Cenário perfeito para levar uma criança ao estádio, passar a um filho o amor pelo futebol independente de ser ou não o clube do coração, para ficar perfeito só rolando o primeiro abraço entre pai e filho comemorando um gol.

E isso ocorreu logo no começo do jogo com a Portuguesa fazendo 1×0 e empatando o confronto. Estádio cheio para um jogo de quarta divisão explodindo com o gol do representante da casa e meu filho feliz no abraço, achei que fosse chorar com a agitação do gol, mas pareceu entender o momento. Pronto, mais um cooptado pelo futebol.

Clima realmente muito bacana, bem diferente da tensão de um jogo de série A, da preocupação com brigas e confusões. Um grupo de jovens se juntou e ficou o tempo todo cantando músicas para o time como fazem as torcidas argentinas e eu e meu filho juntos curtindo o jogo.

A Portuguesa começou melhor, fez o gol, teve chance de ampliar principalmente com jogadas de infiltrações, mas seus laterais marcavam mal e o URT começava a ameaçar.

Empatou no começo do segundo tempo e uma certa tensão tomou conta do estádio com a Portuguesa a partir dali tendo que fazer dois gols. A tensão virou drama e os gols não vieram. A Portuguesa de campanha quase perfeita fora eliminada.

Não saímos tristes do estádio, acho que ninguém saiu. Apesar de todos nós querermos a classificação da Lusa saímos com a sensação que o time fez o que pôde e realizou uma campanha bacana, de dar orgulho ao bairro.

A Portuguesa vem se estruturando e essa parceria com o Flamengo me faz acreditar que melhore ainda mais aproveitando a estrutura que hoje tem em seu estádio e pode mudar seu patamar brigando para ser a quinta força do estado.

O time do URT era bom, jogou bem e mereceu a classificação. Tanto é bom que já passou em mais uma fase e prossegue em sua luta para subir a série C. Foi bom ver uma outra realidade, de jogadores longe do glamour dos grandes jogos, dos super salários jogando por amor a profissão, o amor a bola que nos conquista ainda moleques.

O amor que tenho certeza que contaminou meu filho naquela tarde e seguirá consigo para o resto da vida.

Para um pai isso vale mais que uma vitória no Bernabeu.

Twitter – @aloisiovillar

Facebook – Aloisio Villar

2 Replies to “Uma tarde na Série D”

  1. muito legal o texto .. é assum que o amor ao futebol começa!

    Obs : não fui na série D não …meu coração não aguenta certas coisas mais

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