No último sábado, muita gente no Brasil parou para assistir à decisão da Champions League entre o Real Madrid e a Juventus, com vitória do time espanhol por 4 a 1. Vi a partida com a camisa da equipe espanhola (ao lado), o que rendeu algumas expressões surpresas em minhas redes sociais.

E isso me rendeu uma reflexão sobre o tema.

Eu tenho 42 anos. Sou de um tempo onde as paixões eram unicidades. Você torcia pelo Flamengo e só. Ou pelo Vasco, pelo Corínthians, pelo América. A outra paixão admissível era por uma escola de samba, pelo menos aqui no Rio de Janeiro.

Mas a década de 90 do século passado trouxe a globalização. Então, novos esportes e novas paixões foram sendo, aos poucos, adicionadas ao nosso cotidiano.

Os primeiros deles foram o futebol italiano e a NBA. O futebol menos porque, de certa forma, ainda “concorria” com os times brasileiros. A NBA sim: era um mundo que não concorria com o do futebol e, então, poderia gerar uma espécie de “paixão alternativa”.

Facilitou o momento que a Liga vivia então, onde havia dez, doze times disputando o título – apesar de Michael Jordan. Não essa pasmaceira de hoje. Então muitos adolescentes de então como eu passaram a ter seu time para torcer – a primeira onda da categoria no Brasil.

Mas a difusão da internet, da tv a cabo e das redes sociais trouxe uma gama de novos esportes e novas competições. Também trouxe o alargamento e ao mesmo tempo a aproximação entre o futebol europeu e o brasileiro. Explico.

Alargamento no sentido que, além do calendário não permitir mais partidas entre equipes brasileiras e europeias – a não ser uma improvável final de Mundial Interclubes. Além disso, a diferença econômica entre as equipes tornou o futebol jogado nos grandes centros europeus bastante diferente do jogado aqui, queiramos ou não.

Por outro lado, hoje é muito mais fácil acompanhar uma equipe europeia em sua temporada. Na década de 80 e mesmo nos início dos anos 90, fora o futebol italiano que passava na Bandeirantes era bastante difícil obter informações sobre equipes de outros países.

Nos tempos de hoje as transmissões são bastante frequentes na televisão e as informações estão ao alcance de um clique no navegador de internet ou ainda no aplicativo de celular. Não somente das partidas, mas até mesmo os treinos podem ser vistos ou ter informações quase em tempo real.

Esta facilidade trazida pela internet trouxe a possibilidade de acompanhar e torcer por esportes fora do país. Esportes como o futebol americano, o baseball, o hóquei, ligas “alternativas” de futebol, outras competições como Festival de Parintins, o Eurovision e outros menos votados.

O futebol americano, então, é um bom complemento ao nosso futebol, haja visto que a reta final da fase de classificação e os playoffs que definem o campeão são exatamente no período em que o nosso está em recesso.

Com isso, novas torcidas vão abalando o (antigo) amor monogâmico que vivíamos – em especial nós mais velhos. Normalmente, são mundos que não dialogam, em que pese situações como a equipe de basquete do Flamengo ter enfrentado equipes da NBA em anos passados.

Então, apesar de muitos e muitos torcerem o nariz, torna-se algo comum ter torcidas ou simpatias por diversos esportes e até no mesmo esporte, em mundos que não dialogam. Em um mundo onde 24 horas “duram bem mais” que as 24 horas dos anos 80, por exemplo, dado o número bem maior de demandas e atividades que temos na vida cotidiana, o espaço de quatro ou sete dias entre duas partidas de futebol parece longo demais.

E são tempos que vieram para ficar. Ficar triste na segunda feira com o Reading tomando a virada na decisão por pênaltis e perdendo a subida à Premier League e ver o Real Madrid campeão da Champions no sábado da mesma semana.

De certa forma, o futebol, os esportes, a escola de samba, são um microcosmo da vida cotidiana. Ficamos tristes e alegres em questões de minutos, nos irritamos e xingamos mentalmente em muitos momentos. Troca-se de relacionamentos, até se revezam relacionamentos, se revezam problemas também.

Também é outro microcosmo ter a noção que temos pessoas que nos são íntimas, falamos todos os dias, e muitas vezes sequer a conhecemos pessoalmente. E o mesmo ocorre com nossas paixões esportivas. Nunca estive no Yankee Stadium ou no Santiago Bernabeu, por exemplo, mas certamente me é mais familiar que São Januário, por exemplo.

Escrevi bastante para chegar a uma conclusão muito simples: a “poligamia esportiva” veio para ficar.

Claro que teremos nossa paixão prioritária, mas a cada esporte e a cada realidade que não se cruzam haverá uma simpatia, uma torcida ou ainda um acompanhamento, mais ou menos profundo.

Não adianta criticar. Os tempos mudaram.

P.S. – escrevi esse texto na noite de sábado. Vendo no dia seguinte o clássico entre Flamengo e Botafogo, fica claro que é outro esporte completamente diferente do jogado na Europa. Não surpreende a garotada de hoje preferindo torcer para Real Madrid e Juventus e não para Flamengo e Botafogo.

Imagens: Ouro de Tolo

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3 Replies to “Sobre Torcidas e Paixões”

  1. Eu compreendo tudo isso ,mas eu sou das antigas. Até acompanho futebol europeu pq adoro futebol mas a minha única paixão e torcida sempre será pelo Internacional. Nenhum outro time do Mundo me da a mesma emoção que meu colorado

    1. Entendo, mas há de convir que, apesar da draga atual, o Inter teve uma boa maré de conquistas na década passada. Isso ajuda a fidelizar.

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