Pensei em escrever hoje sobre o caso Bruno, mas não acho que esse psicopata mereça ser citado em algo tão nobre quanto uma coluna esportiva, então fica para a “Orun Ayé” de domingo que vem. Prefiro hoje escrever sobre outra figura controversa, mas que pelo menos não temos relato de assassinatos e esquartejamentos. Pelo menos de pessoas.

Porque com o Vasco esses dirigentes que passaram no clube nos anos 2000, incluo Roberto, machucam, fazem sangrar e só não chegam ao assassinato e esquartejamento porque é um clube gigante, um dos maiores do mundo. Só o tamanho do Vasco, seu gigantismo explicam tantos desmandos, falta de amor, de competência em suas gestões e o clube ainda estar aí de pé e lutando.

Eurico deu entrevista na última terça para a ESPN no programa “Bola da Vez”. O fato de Eurico aceitar ir à ESPN chamou a atenção de todos porque a emissora é conhecida por combater tudo aquilo que ele representa e ele ser um de seus principais alvos. A curiosidade aumentou ainda mais quando vimos que Mauro Cezar Pereira era um dos entrevistadores. Mauro Cezar é sério, combativo e não costuma “amarelar” para quem seja, enfim, prometia, muito.

Mas sinceramente para mim não cumpriu. Esperava uma entrevista nitroglicerina pura, que tentassem acuar o Eurico que, evidente, não aceitaria e no calor do ao vivo não descartava nem que não chegasse ao fim. Mas achei tudo frio demais, não vi “amarelada” de jornalistas nem cortesia em demasia, mas não vi a firmeza que a ESPN sempre passa.

Fizeram as perguntas que deviam fazer, todas sem exceção, mas fizeram.

Chamando de “senhor”, “doutor”, cheios de dedos e o pior, deixaram que Eurico enrolasse, saísse dos assuntos das perguntas e falasse por mais de meia hora sobre o que quisesse sem dar a resposta pedida. As perguntas foram feitas, as respostas não foram dadas.

Eurico continua muito bom de oratória e às vezes até consegue ser quase simpático, velhinho simpático já que está com aspecto envelhecido e não lembra mais aquela figura temida que invadia campos e ameaçava juízes. Falou de todo legado ruim deixado por Roberto, de toda sua luta para reerguer o Vasco, mas de uma forma, com aspecto que mostra que  tempo passa para todos e Eurico não é mais tão Eurico assim, apesar que como todo bom cara de oratória, se nos deixarmos levar ele nos convence.

O velho discurso estava ali, a fala de “poderoso chefão”, os elogios a Ferj e falar que o Campeonato Carioca de zero a dez era nota onze, elogios a Ricardo Teixeira, Del Nero e Marín, achar normal colocar os filhos como dirigentes, aquela velha válvula de escape de falar do Flamengo sempre que se sente acuado e enrolar, enrolar muito como quando falaram da bilheteria de um clássico que levou pra casa e foi assaltado.

Eurico repete o velho discurso do “eu”. “Eu faço”, “eu aconteço”, “eu fiz isso,” “eu fiz aquilo”,”o Vasco precisa de mim, sempre o “eu”, nunca o “nós”, um velho discurso usado não apenas por pessoas mais velhas já que conheço muitos jovens que repetem, mas reflete um jeito arcaico de ver o mundo e agir.

Eurico não é o único culpado da situação do Vasco esse século, mas também é culpado e sinceramente não vejo administrativamente como melhorar já que não são formados novos líderes no clube. O Vasco, é evidente, continuará gigante, vencendo títulos, mas com o tempo essa falta de renovação em seus quadros pode lhe trazer graves problemas, maiores até que três rebaixamentos em oito anos, pode lhe deixar para trás em relação a rivais.

E quando a entrevista acabou e todos se apertaram as mãos fiquei com a sensação que tinha perdido meu tempo. Eurico não foi Eurico, a ESPN não foi ESPN  e tudo vai continuar como sempre esteve.

Com bravatas e riscos de Sibéria.

Twitter -@aloisiovillar

Facebook – Aloisio Villar

2 Replies to “A entrevista do Eurico”

  1. Também achei que pegaram leve, principalmente o MCP, o Juca Kfouri no lugar teria certamente atacado mais o Eurico. Porém, um amigo me chamou a atenção que, devido ao evidente estado de saúde frágil do Dotô, não quiseram forçar a situação e arriscar do homem ter um pilipaque ao vivo para o Brasil inteiro ver…

    Em todo o caso, a situação no Vasco é péssima, apesar de mostrar a grandeza do clube em sobreviver a nove anos e meio de Eurico mais seis anos e meio de Dinamite, tudo tem um limite. Temo que mesmo que Julio Brant ou alguma nova liderança assuma o clube ano que vem, não haja mais nada para reconstruir…

  2. Em 1999, numa entrevista à “Caros Amigos”, Chico Buarque traduziu o sentimento dos torcedores do Fluminense dizendo que o time “tinha virado um América”.

    Será essa a situação do Vasco, hoje em dia? Porque é inadmissível um clube tetracampeão nacional, campeão da Libertadores e que fez a maior partida de um sulamericano derrotado na final do Mundial chegar a esse ponto de descaso e desprezo.

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