Neste ano de 2017, se completa o primeiro ciclo do novo modelo da Série A, o grupo de Acesso do Rio de Janeiro. Antes desfilando apenas no sábado de carnaval desde 1988 – com a exceção dos anos de 1993, 94 e 95, realizados em dois dias – o desfile passou a ser realizado na sexta feira e no sábado de carnaval.

Como escrevi em pelo menos outras duas oportunidades, esta nova estruturação do Acesso decorreu basicamente de dois fatores: ao fim da Lesga (entidade que organizava os desfiles) após os seguidos resultados com suspeitas de irregularidades e ao interesse da Rede Globo de televisão em fazer a transmissão para o Rio de Janeiro.

Para isso, a emissora necessitava que o desfile fosse em dois dias a fim de adequar a grade ao desfile paulista, então transmitido. Formou-se uma conjunção de fatores: a Lierj, entidade que substituiu a Lesga, precisava de credibilidade, a Globo se interessou por este produto a um bom preço para ela e ainda encontrou um produto complementar ao desfile paulista, mostrado ao restante do país.

O contrato teve duração de cinco anos, a partir de 2013, o que significa que seu término é após o desfile de 2017. O valor à época foi fechado em valores considerados baixos, até pela crise de credibilidade vivida pelo grupo – isso admitido pelo próprio presidente da Lierj Déo Pessoa em entrevista dada no pré carnaval de 2015. Com a valorização dada pela própria transmissão em maior âmbito e a organização dada pela Lierj aos desfiles, natural que esta renovação ocorra em bases melhores para as agremiações – mas este não é o mote principal do artigo.

Até porque, como escrevi em artigo de 2015, a questão financeira das escolas é um problema sério e não melhorou de lá para cá. Cada agremiação tem em valores – brutos, antes dos descontos – cerca de R$800 mil de verbas oficiais, compostas por televisão, subvenção e venda de ingressos, basicamente. Este valor, hoje, supre cerca de 40% das necessidades de uma escola deste grupo para um desfile competitivo.

Parêntese financeiro fechado, a transmissão do desfile por parte da emissora exerceu um efeito positivo sobre a qualidade dos desfiles. De um primeiro ano com 19 escolas e situações como a Unidos de Vila Santa Tereza desfilando sem roupas de bateria (acima) e nível geral bastante aquém do desejado, chegamos a um 2017 onde não parece haver expectativa de nenhum problema desses.

Entendo ser positivo o papel da rede Globo neste processo, como um fator indutor às escolas. O alcance foi maior em termos de público e repercussão e ainda para a captação de eventuais patrocínios o fato da emissora transmitir os desfiles facilita nas negociações com eventuais parceiros.

Por outro lado, a emissora foi ampliando aos poucos a sua participação na transmissão e, especialmente, em sua divulgação. Após um primeiro ano onde a participação praticamente se limitou à transmissão propriamente dita, o espaço ocupado pelas agremiações foi se ampliando na programação, melhorando a visibilidade.

Especialmente nos três últimos anos, 2015, 2016 e agora 2017, este espaço aumentou bastante. Momentos como as finais de samba passaram a merecer espaços nos telejornais e desde 2015 há no “Bom Dia Rio” a série “Meu Jeitinho”, que em matérias com aproximadamente 6 minutos (uma eternidade em termos de televisão aberta) mostra a preparação das escolas em seus barracões – tendo, também, o mérito de deixar claros os problemas financeiros e de estrutura dos barracões mesmo não sendo o objetivo proposto.

Para 2017, haverá uma série nova, ainda sem nome, a ser exibida durante o mês de fevereiro. Ela vai contar com grandes nomes das escolas relembrando sambas e memórias das agremiações.

Tive a oportunidade de acompanhar a gravação do programa que envolveu Império da Tijuca e Estácio de Sá, realizada no Baródromo, restaurante na rua do prédio onde trabalho – aliás, o primeiro temático referente a escolas de samba.

Pude gravar dois vídeos com bastidores da gravação, relembrando sambas de sucesso das duas escolas, que apresento no decorrer deste texto. São bem legais e mostram o esforço da emissora e de seus profissionais para ativar o seu produto – e, assim, ter uma audiência maior na transmissão.

Transmissão essa que terá como uma das novidades a presença do jornalista e colunista deste Ouro de Tolo Carlos Gil como um dos âncoras, substituindo Alex Escobar – que irá narrar o Grupo Especial. Um grande ganho de qualidade a meu ver.

Outra novidade é a presença do cantor Mumuzinho entre os comentaristas. O que, se provoca narizes torcidos naqueles que acompanham o ano inteiro (eu incluído, confesso), é perfeitamente explicada pela perspectiva de atrair à transmissão o telespectador que está em casa e que não é tão aficionado pela festa.

Afinal de contas, é um negócio, e audiência aumenta a rentabilidade – não podemos nos esquecer.

Entretanto, existe a expectativa de uma cobertura mais, digamos, “técnica”, como já vem sendo feita nos últimos anos e cuja promessa é de que haja um aprofundamento para 2017.

Minha leitura é que o telespectador médio do Acesso conhece mais das escolas e dos desfiles comparado ao Grupo Especial – até por passar apenas para o Rio de Janeiro em tv aberta – o que permite um grau de aprofundamento maior. Ou seja, algo menos generalista. E isso vem melhorando ano a ano na transmissão.

Pessoalmente, acho a colocação da cabine na Praça da Apoteose bastante inadequada, mas é algo que depende não somente da emissora. Algo entre os Setores 3 e 7 seria bem mais produtivo não somente aos âncoras/comentaristas quanto ao público de casa.

Obviamente, alguns problemas existem. O principal a meu ver é não haver a transmissão ao vivo desde a primeira escola, se bem que aí a Lierj poderia ajudar: ainda mais na sexta feira, com o trânsito de saída do Rio de Janeiro e apenas sete escolas desfilando, 23 horas poderia ser um horário bem adequado de início para o desfile – facilitando a grade da emissora.

Uma outra questão que vejo é permitir a quem está fora do Rio de Janeiro poder assistir ao desfile também pela tv. Hoje existe a retransmissão feita pelo portal do grupo na internet (ainda não confirmada se a partir da primeira escola ao vivo), mas aumentaria bastante a visibilidade e a força deste grupo se as afiliadas pudessem escolher qual desfile transmitir e se houvesse alguma forma de retransmissão em um dos canais de tv fechada do grupo.

Finalizando, vejo que a transmissão do desfile da Série A pela Rede Globo é algo bastante positivo para todas as partes envolvidas.

Evidente que alguns ajustes precisam ser feitos, mas o espaço destinado na programação e a cobertura vem aumentando ano a ano, o que permite se imaginar algo ainda melhor e mais completo em um segundo ciclo após eventual renovação.

O saldo é bastante positivo.

Imagens: Ouro de Tolo

(atualizado às 09:04 de 31/01 com a informação do término do contrato)

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14 Replies to “A Globo e a transmissão da Série A: um Balanço”

  1. O fato de ser uma cobertura mais técnica, como você disse Pedro, realmente faz com que a transmissão do Grupo de Acesso pela Globo seja muito superior a do Especial, com o nível dos desfiles também melhorando bastante, como um todo, em relação a 2013. E esse formato nos “salvou” de uma sequência Band/SBT em 2010, 2011 e 2012 que vou te contar, foi bem complicado, cortes e mais cortes para outros Carnavais e comentários de Adriane Galisteu, Eliana… Mumuzinho perto disso é expert…

    A época da transmissão do Acesso na CNT, com o “Carnaval do Povão” do Jorge Perlingeiro, foi igualmente complicada, bastante precária, porém esse trabalho merece mais crédito, pois seu início em 2002 retirou os desfiles do Acesso de dois anos sem transmissão após o fim da saudosa Rede Manchete e da transmissão (aí sim boa) da Band em 99, sem contar que a estrutura oferecida era muito inferior a de Band e SBT…

    1. O curioso é que mesmo com estas transmissões precárias a transmissão chegava a ganhar da Globo com São Paulo em muitos momentos – em 2012 especialmente. Agora, se não me falha a memória 2001 foi o único ano sem transmissão em tempos recentes.

      1. Sim, lembro de notícias dizendo que o Sílvio Santos tinha ficado bem satisfeito com os números da transmissão de 2012 pelo SBT, acredito que isso foi, inclusive, um fator importante, além dos citados no texto, para a Globo assumir o Acesso com dois dias. Também recordo do Perlingeiro bem feliz com os números de algumas transmissões, em especial 2004 e 2008. E esqueci: é digna de nota a transmissão independente da nada saudosa LESGA em 2009, através da CNT, não pela qualidade, mas por matar um pouco minha saudade dos desfiles narrados pelo ótimo Paulo Stein…

          1. O Paulo Stein trabalha no Sportv, do grupo Globosat. Seria ótimo se participasse pelo menos do Acesso.

          2. Acho bem improvável, porque a equipe que cuida de carnaval na Globo é totalmente desvinculada do Sportv

      2. É meio óbvio isso né? Se você comparar a audiência do carnaval de SP com o grupo especial do estado do Rio de Janeiro vai constatar que em SP o carnaval de SP tem mais audiência do que o do RJ…Cada praça valoriza o seu produto!!!!

    1. Era contra o desfile começar tão tarde, mas realmente na sexta feira, tendo em vista o trânsito de saída do Rio, quanto mais tarde melhor

  2. acesso precisa ter 60 minutos de desfile e começar sexta 23:15 sabado 22:30 e campeã VOLTANDO SABADO DAS CAMPEÃS

  3. Até hoje a CNT Não se conforma com a perda dos direitos de transmissão do Desfile das escolas do Grupo de Acesso para a GLobo

    1. Na verdade a transmissão nunca foi da CNT. O Perlingeiro alugava o horário e comprava os direitos junto às escolas.

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